Ser babá

Hoje, pela manhã, e em outras tardes mortas, ao ver meu netinho assanhado de nome Theo, observei, na praça central da cidade, junto a outras crianças da mesma idade, o chefe da quadrilha de pivetes de menos de dois aninhos. Theo era o comandante da anarquia, fazerem as suas estripulias no verde daquela praça.

Fiquei por lá apenas alguns minutos tentando apaziguar os ânimos. Fiz, com meu celular, instantâneos de suas traquinagens coloridas.

Theo, lourinho como um papagainho louro, corria de um lado a outro. João, e uma linda meninazinha da qual não sei o nome, depois me disseram ser Helena, ficavam um tanto mais quietos, com suas pajens espertas a velarem por seus corpichos irrequietos.

Uma bola azul era de repente o foco das atenções dos diabinhos. Não era do garoto Theo a esfera redonda. E sim do amiguinho João a sua posse.

Enquanto as duas criancinhas andavam, corriam como aves pernaltas de um lado a outro, entrando gramado adentro, Theo subia uma subida leve. Agarrando com suas mãozinhas espertas um corrimão de ferro duro. E a sua babá, a qual apelidei de Suíça, por ter morado naquele lindo paizinho enfiado entre os Alpes europeus, um tanto quanto fora do peso se esforçava para acompanhar o meninozinho.  Debaldes lhes eram as tentativas.  Eu entrei no jogo. Por pouco tempo, diga-se an passant.

Foi a conta de sentir, cá dentro, todas as agruras da profissão de babá.

Ser cuidadora de crianças é um risco deveras arriscado.  Caso aconteça alguma fatalidade com o pimpolho, quem paga o pato? Por certo não serão os pais, os avós ausentes, os tios decadentes, e nem algum circunstante passageiro.

Dizem que ser mae é padecer no paraíso. Ser avô é curtir, de tempos em tempos, a carinha do seu neto artioso. Para depois entregá-lo, sorridente, a quem pariu Mateus, que o embale.

Mas quem troca as fraldas? Na ausência dos progenitores? Quem tem babá que sabe bem. Quem da banho na criança? Na hora depois da papinha? Quem troca a roupinha do menino, ou da menina? Fora do expediente? Por certo é a zelosa e estressada babá. Que nem usa babador, se dane a roupa suja que amontoa casa adentro; pior se for apartamento.

Para ser babá não apenas é preciso ter carteira assinada. É preciso ter para-choque reforçado. Para contar os galos na testa ancha da criança, que ainda nem cabelos tem.

Ser babá é uma profissão de risco alto. E a pobre tem de deixar o próprio filho aos cuidados da própria mãe. Que tem de se desdobrar entre ser cuidadora do lar e mãe de aluguel, que não percebe salário ou soldo que o valha.

Ser babá é ser diferente de outras profissões símiles. Tem de saber lavar roupa do bebê. Tem de saber fazer a comidinha de cada dia. Tem de estar preparada para quando a criança acordar. E, embora reze contrita pelo santo protetor das quedas, de vez em sempre a coisa se agrava. E corre para o pronto socorro infantil. Antes que a mãe do pivete chegue esbaforida do cabeleireiro.

Ser babá, nem é bom confessar.

Conforme me afiançou a do Theo. A Suíça como a chamo carinhosamente.

“Doutor. Como o senhor tá vendo, não é nada fácil ser babá. Mas eu gosto tanto da minha função, que, se pudesse, e meu dinheiro sobrasse, montaria para mim uma creche, e iria todos os dias para lá. A fim de cuidar dos filhos alheios. Oxalá, um dia vou poder realizar meu devaneio. E vou chamar o senhor para me ajudar”.

Deixei o Theo, seus amiguinhos, a as queridas babás, declinando do seu amável convite. Para mim basta ser avô. Tá bem demais, pra lá de melhor.

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