Tropeços de amor

Seu Pedro das Tantas Paixões, desde que enviuvou, não passava uma noite que fosse em companhia dos seus travesseiros.

A idade a ele montava como se monta um cavalo inteiro. Sem parança. Sem paradeiro.

Em jovem ainda acabou se consorciando com uma linda mulher. Que lhe foi pródiga em filhos. Foram ao todo dez. E todos eles sobreviveram ao duro embate da vida com o pai mourejador.

Pena que a amada esposa veio a se despedir ainda jovem. Uma pertinaz enfermidade deu-lhe fim aos dias. Seu Pedro, ainda rapaz adulto formoso, logo se embeiçou por outro rabo de saia. A viuvez nem esquentou o caixão da esposa recém-falecida. Não que não tivesse amor verdadeiro por ela. Era amor sim. Não paixão.

Mas, dado aos hormônios em alta o viúvo, ao sentir a solidão, caiu de amores por uma dona. Resultado da sua perdição.

Pena que a idade deixa na gente marcas que nem querendo elas saem. São tatuagens não de hena. São verdadeiras, inteiras, graúdas, como se fossem picadas de escorpião. Aos quase noventa anos, Seu Pedro das Quantas Mulheres, ainda sentia pelas fêmeas um fogo ardente de paixão. Não ficava sem sexo. A cama pagava o pato. Quando ali mulher não dormia. E as molas rangiam de tanta esfregação.

Um feio dia quis o destino que a próstata inchada do Seu Pedro acabou entupindo a urina. Que dor ele veio a sentir! Com a bexiga prestes a estourar por cima da barriga.

Foi um doutor não especialista de um pronto socorro que enfim, depois de dores terríveis, enfiou uma sonda fina pela uretra ainda virgem daquilo. Saíram caldeirões de urina cristalina. Foram medidos mais de dois litros.

Mas, sem a experiência de um urologista, não sabedor que o quadro iria se repetir, de novo a urina estancou. Mais dois litros de xixi vazou.

Aí, uma das suas filhas, a mim procurou. Por ter sido bem atendida pelo médico que eu sou, tempos atrás.

Fizemos uma cistoscopia. Comprovada a doença da próstata inchada. De natureza benigna.

Nada mais restava a fazer, dada à idade provecta, afinal Seu Pedro contava com noventa anos de vaidade, ou optava-se pela retirada da próstata, ou pela sonda definitiva.

Foi a primeira opção da minha escolha. Passada a tal sonda macia, própria a ficar muito tempo, um pequeno empecilho me fez sabedor o Seu Pedro.

Como fazer amor com tal estrupício fincado em seu órgão copulador? O pênis de Seu Pedro já era grande. Media, por baixo, mais de vinte e cinco centímetros flácido. Em ereção o valor era mais alto.

Com a sonda enfiada na sua uretra, da bexiga ao meato uretral, tudo junto iria ficar na dimensão não ideal para o sexo. Pobre da sua atual namorada. Uma velha assanhada, que não ficava sem aquilo de que mais gostava.

Foi a questão que Seu Pedro da Tantas Mulheres me deixou em dúvida. Como usar o pênis com a sonda junto? Não pelo tamanho do conjunto. E sim pelo impedimento da introdução.

Depois de examinar bem a questão, de consultar meus compêndios da especialidade, concluí que, para não complicar ainda mais a vida do meu consultante, antes do sexo ele poderia retirar o adjuvante. Com minha ajuda. Bem falante.

Em todos os casos de amor existem tropeços. No caso do Seu Pedro foi a próstata com sua sonda incômoda. Mas, a solução contra a dissolução, no caso do meu paciente, foi, na hora H, ir junto a ele. E sua dona namorada.

Qual a opinião de vocês todos? Tem outra solução contra a dissolução?

 

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