Nada como era antes

Isso de remar ao revés parece estar fora de moda.

“Enterre o passado!” Sempre me disseram esta frase.

Mas de nada adianta. Por mais que deseje lá vou eu de volta. Embora sabendo que tudo que ficou atrás não volta jamais. A não ser a saudade que fica. Por mais que a gente tenta aquela sensação de vazio, poder-se-ia dizer angústia, ensarta-nos o peito como um punhal cravado em nossa carne. Que machuca sem fazer sangrar. Que arde como pimenta em nossos olhos. Que nos sufoca como se um saco fosse colocado em nossa face. Deixando-nos sem respirar.

Os costumes mudaram. De tempos pra cá.

Antes se podia sair às ruas sem medo de nada. Agora, o medo faz parte do nosso viver. A intranquilidade passou a ser a bola da vez.

A ética e decência era coisas vistas em cada esquina. Agora elas fazem parte de um museu de cera. Onde os personagens enfocados são apenas lembranças que se foram. Relegados ao olvido. Desdenhados como a honestidade e a amizade.

Antes se viam rodas de amigos em volta de mesas sem o perigo de surgirem desavenças entre eles. Hoje em dia a violência banalizou-se tanto que nem imagino quanto.

Os jogos de futebol terminavam em comemorações ruidosas apenas. Agora o que se veem são brigas de torcidas provocando morticínios.

Na televisão mal de viam denúncias vazias. Agora o que se assistem são podriqueiras enormes. Balas perdidas, matanças desenfreadas, prisões de gente que foi eleita para defender nossos interesses e só pensam nos próprios.

Conversas amistosas eram comuns nos tempos idos. Agora os celulares, a internet, não permitem tempo para colocar a prosa em dia.

Visitar um amigo agora ficou proibido por uma simples razão. A novela das oito e meia, que nunca começa antes das nove, impede toda e qualquer aproximação.

Antes não se tinha tanto estresse como hoje em dia. Agora ele faz parte do nosso viver intranquilo.

E como era bom passar horas e horas assentado a um banco daquela pracinha cercada de muito verde. Agora esta mesma praça está entregue a drogados e amigos do ócio.

Antes podia-se jogar bola em campos de várzea. Distribuídos pelas periferias. Agora proliferam espigões em todas as partes. Lotes baldios foram transformados em condomínios fechados.

Nos bons tempos que lá se vão era comum verem-se garotos brincando de jogar finca e pião. Já hoje estes mesmos garotos passam todo o tempo de celular na mão. Sem terem experimentado o sabor agridoce de empinar pipas e cortejar garotas sem más intenções.

Antes ia à missa das nove para a seguir descer ao jardim a fim de trocar figurinhas. Encher álbuns com as carimbadas fazia parte dos nossos devaneios pueris. Agora não se tem tempo para nada. Já que as tais figurinhas foram trocadas por outras que não valem nada. Pois os valores mudaram. Os verdadeiros ídolos foram substituídos por outros frutos de uma mídia sensacionalista, que idolatra o que não presta, em detrimento de outros que sucumbiram aos bons costumes dos bons tempos que se foram e deixaram rastros que poucos continuam a segui-los.

Antes era comum ver crianças sendo cuidadas pelas mães. Agora as mesmas mães deixam as crias sendo cuidadas por outras mães que não são as delas.

Num passado longe chupava jabuticabas numa ruinha sem saída. Que sumo doce tinham estas frutinhas pretinhas de casca fina.

Num dia recente tornei a chupar jabuticabas noutra rua perto de onde estou.

Elas não eram tão doces como as do meu passado.

Foi quando a mim me perguntei a razão do acontecido. Seria pela simples razão de eu ter crescido? Ou simplesmente o motivo foi por ter envelhecido?

Foi então que descobri a resposta desta pergunta.

Hoje as coisas mudaram tanto, tanto, que o sabor da mesma jabuticaba perdeu o açúcar dentro dela. Como eu perdi o doce do passado que amava tanto.

Pena que o antes não é mais como era antes. Mesmo assim sonho com o doce sabor dos velhos tempos. Bem antes que o agora se mostra com sua face tristonha.

 

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