Seu nome era saudade

Palavrinha marota esta chamada saudade. Ela tem tudo a ver com sensibilidade.

Falta de alguém, sentimento profundo que por vezes dói, nos cavouca o peito bem no âmago, faz-nos às vezes chorar, ou, pensando de outra maneira, inquieta-nos a alma, povoa nosso coração de coisas distantes, ou quando a pessoa da qual sentimos saudade se foi num dia perto, mais forte fica a saudade.

No próximo domingo as mães são lembradas em todo mundo. Filhos se reúnem por elas. E para elas os pensamentos são voltados. Numa mesa farta, ou num cantinho qualquer, aquelas que nos deram a vida recebem além do nosso carinho um presentinho que seja. Uma flor, um embrulho amarrado com uma fita amarela, com o nome dela, são presentes que os filhos deixam em suas mãos. Grande parte não podem presentear as mães. Mas elas, com sua grandeza infinita, bem sabem elas que a falta de presentes nada significa. A simples lembrança do seu dia bem valem as lágrimas derramadas. Os risos contidos. A saudade doída.

Sete de junho aniversariava a minha saudade. Ainda me lembro de quando ela se foi. Triste dia.

Fomos juntos ao hospital aqui pertinho. Levei-a ofegante num carrinho azul. Que foi do meu pai.

Uma vez em sua casa, que daqui se avista pelos fundos, para onde fui chamado às pressas, percebi que minha saudade se esvaia em vida.

Foi no centro cirúrgico que minha saudade se foi. Médicos lutaram para esta data fosse adiada. Mas percebi, como médico, incompetente para retardar a vida quando a morte mostra sua cara escura, que o dia e a hora de minha saudade partir havia chegado.

Fechei-lhe os olhos com as próprias mãos. Ainda me lembro dos olhos verdes da minha saudade querida.

O sepultamento da minha saudade foi o pior dia da minha vida. Em plena madrugada, naquela sala fria, fiquei só. Todos se foram. Apenas um cãozinho dorminhoco assistiu a minha saudade dormir para sempre.

Tudo isso aconteceu em dois mil e cinco. Contam-se treze anos desde então. Ainda me lembro como se fosse hoje.

Que anos bons vivi ao lado de minha saudade amada. Com que desvelo ela cuidava de mim. Do meu irmão, de minha irmãzinha querida. Ao meu pai, que também se chama saudade, ela se dedicava como esposa, como mãe, durante toda a sua enfermidade.

Ela tinha olhos verdes. Cabelos castanhos claros. Pele morena. Ao lado de onde escrevo sua fotografia, olhando pela janela onde hoje é o edifício Rodartino Rodarte, recebe a luz do sol que ilumina a saudade que sinto dela.

Minha saudade foi professora por poucos anos. Mas logo, depois de casada com outra saudade, deixou de ser professora para se dedicar a família. Fui o primeiro filho daquela saudade querida. Cinco anos depois nasceu meu irmão.

Meu debut frente à vida foi em Boa Esperança. Mas foi naquela rua, naquela casa agora sendo reformada, que ensaiei meus primeiros passos guiado pela saudade daquela mulher grandiosa. Serena, educada, de olhos verdes da cor dor mar calmo, que bem espelha a grandeza das mães tão importantes para os filhos que no domingo vindouro irão comemorar sua data.

Quando me ausentei daquela casa foi para encarar meu futuro. Fiz-me médico não por inspiração daquela saudade imensa que sinto dela. Foi por mim mesmo. Meu pai não me incentivou a seguir esta profissão tão importante. Já que na família não existia nenhum médico ainda.

Domingo perto as mães são lembradas. Saudades são tantas. De quem não as tem mais.

Aos que ainda contam com as suas saudades perto, meu afetuoso abraço sincero. Aos que não mais as têm minhas condolências eternas.

Já tive a minha saudade ao lado. Bem juntinho ao meu abraço de filho primeiro.

Agora, que não mais tenho a quem enlaçar no domingo que vem, fica aqui, nesta crônica sucinta, além do meu sincero até um dia, ao seu lado voltarei, dizer que o nome da minha saudade é Rute Rodarte. Que bem espelha o sabor e cor da saudade. Sentimento que faz doer. E como.

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