Um amor diferente

Existem amores de todos os tipos.

Aqueles misturados a paixão. Que nos turva a visão e atropela os sentidos. Por ele fazemos de tudo. Até o impossível.

Amores que o tempo levou. No sorriso doce de nossos pais. Amor filial é coisa boa demais.

Amor ao próximo sobre ele versa o Livro Sagrado. Não é uma leitura fácil. Como algumas crônicas que tenho escrito.

Mas a leitura da Bíblia deve ser estudada, assaz compreendida, para nos tornarmos pessoas melhores que temos sido.

Amores podem ser acompanhados de dissabores. Soberbamente quando o tal amor não vai e volta; como deveria.

Quem ainda não experimentou algum tipo dessas contrariedades não provou o sumo doce do amor. E não teve a chance maravilhosa de viver a vida. Como ela deve ser sentida.

Aos sessenta e oito anos já passei por situações múltiplas. Nasci sem entender o que fosse o amor. Foi quando meus pais, com seu carinho por mim, me fizeram compreender o tamanho deste sentimento. Melhor que defini-lo é senti-lo.

Ao crescer, bem pouco, diga-se de passagem, pela primeira namorada, era ainda muito jovem, não sabia dizer se aquilo foi amor ou simplesmente um chamego pequenininho. O fato que íamos ao cinema, mão na mão, apenas alguns beijinhos breves, e nada mais acontecia entre nós. Uma vez o filme terminava íamos cada um a sua casa. Depois de uma despedida sem saber se outro encontro se daria noutro dia.

Aquilo, se foi amor, talvez não terminasse como acabou. Sem mágoas ou ressentimentos, foi bom enquanto durou.

Uma vez profissional formado, adulto me considerava, outro amor entrou-me vida adentro. E dura até hoje. Minha querida esposa é o amor que me acalenta agora; já que estamos juntos a quase uma vida.

Meus filhos são outra expressão de amor. Agora já estão adultos. Podemos não manifestar a grandeza do amor que sentimos por eles. Mas estejam certos que os amamos muito.

Este amor recém-descoberto é diferente.

Não como aquele que dedicamos a nossos pais. Ou a nossos avós. Ou a alguma pessoa aparentada, ou mesmo um estranho a quem chamamos de amigo.

Este amor distinto faz dois aninhos no próximo dia vinte deste mês que nos abraça. Mês frio. Que hoje, doze de julho, acordou nevoento.

A temperatura quando desci a rua oscilava entre oito graus e um cadinho menos. Poucas pessoas se atreviam a sair de casa nesta hora quase madrugada.

Mas é a hora que a inspiração me cavouca as entranhas e tenho de cuspir fora tudo que me passa por dentro.

Durante a noite, sempre curta, tenho por mim que passar oito horas inteiras de olhos fechados é um desperdício de tempo, pois o que se observa do lado de fora é tão lindo, lucubrei sobre o que escrever neste dia.

Foi exatamente sobre o amor, pela vida, pelos meus símiles, o mote que me assoprou aos ouvidos.

O amor que redescobri há exatos dois anos atrás tem apenas quatro letras em seu nome.

Tive a felicidade de testemunhar, de corpo e coração pulsante, ao seu nascimento. Minha filha, e meu genro, são os responsáveis pelo presente que recebi naquele vinte de julho passado. Embora não fosse meu aniversário não existiria um presente melhor.

Ele nasceu limpinho. Clarinho como nuvem sem chuva. Muitos bebês são feiozinhos logo ao nascer. Mas meu primeiro neto veio ao mundo lindinho como um beijaflorzinho naquele voo lépido, naquele farfalhar de asas que nem o percebemos.

Ao lado do Theo me sinto como uma criança. Na plenitude da esperança que um dia tive, antes de me tornar quase um ancião.

Ao seu lado brinco, rio, faço de conta que ainda sou menino. Não vejo a hora de passar pela praça do jardim. Onde ele sempre está, por volta de antes das onze.

Ao cair da tarde, quase noite, de novo passo em sua casa. De quando em vez ele ainda dorme. Como um anjinho de asas brancas, despreparadas para voar.

Espero que ele acorde. Para que voltemos a brincar.

Como o Theo adora passear de carro. Com ele no banco de trás me esbaldo. Meu outro amor vai na direção. Agora que seus pais estão ausentes me faço presente. Com que satisfação.

Há cerca de dois anos descobri nova nuance de amor. É um amor diferente. Daquele que sentia pela primeira namorada. Aquilo não foi amor. Pois nem me lembro de quem era.

Agora, prestes a entrar na melhor idade, já estou nela há anos inteiros, depois de experimentar quase todas as modalidades de amor, por ele, através dele, de outros netos mais, afinal vim a conhecer outro tipo de amor.

É um amor que nos faz voltar no tempo. Ele nos rejuvenesce, nos faz mais inteiros.

Agora por certo ele dorme. É cedo pra ele. Não pra mim. Seu avô deixa manifesto aqui, neste texto de hoje, o quanto me faz bem redescobrir outro tipo de amor.  Este amor diferente. Ele tem o nome de Theo Neném. O que será de mim quando nascer Gael? E outros netos que hão de vir? Nem sequer imagino…

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