Encontrei, afinal, a fórmula encantada do rejuvenescer

De nada tem adiantado as tentativas vãs de voltar alguns anos atrás.

Bem sei que senilitude me espera. A velhice me aguarda. Os verdes anos ficaram pra trás.

Ninguém está imune ao passar do tempo. Ele passarinha rápido. Como as asas dos beija-flores.

Quando se vê não mais temos dez anos. Quando menos esperamos lá vem a carruagem dos anos carregada de desenganos.

Hoje estou sessenta e oito. Amanhã um ano a mais. Quantos anos mais terei pela frente? A esta pergunta nem eu mesmo sei a resposta. Nem quero saber.

Tenho feito tudo para alongar-me os anos. Não tenho vícios maiores a não ser escrever. E não creio que escrever tanto não acabe encurtando-me os anos. Ao revés. Quando eu passar a outra vida tudo estará registrado numa das minhas crônicas, tantas que são.

Dispenso os carros na minha lida diária. Não tomo qualquer tipo de medicamento. Salvo um analgésico quando for preciso. Frequento academia todas as tardes. Aos finais de semana vou à roça que tanto amo.

Ali, naquele lugar encantado, cheinho de bichos mansos e outros mais arredios, aprendo a ser mais singelo. Mais perspicaz. Mais ameno ao trato. E muito mais confiável junto aquelas pessoas para as quais a palavra dada vale mais que mil notas promissórias.

Até a presente data a vida tem sido um presente a cada dia. Não tenho do que me queixar. Até mesmo a calmaria que se encontram os consultórios não provocam em mim qualquer desassossego. Preencho o tempo ocioso escrevendo. Ou lendo as noticias diárias, sempre um cabedal de coisas ruins, pela internet ou pela televisão matinal.

As doenças ainda não pensaram em se aboletar do meu corpo bem rodado em anos. Para o incômodo da próstata vou controlando os sintomas tomando remédios de uso contínuo. Espero não ter de passar pelo bisturi afiado de algum colega de especialidade.

Embora tenha a esperança de continuar assim bem sei que o tempo não vai ser tão condescendente para com minha pessoa. Um dia as coisas mudam de figura. A saúde vai me abandonar. Como um dia aconteceu com meu pai e outros que perderam a vida um dia longe.

Bem sei que ninguém vive eternamente. A eternidade a encontraremos num lugar lindo, imagino que seja no azul do céu, ou dentro de alguma nuvenzinha branca.

Há dois anos penso ter encontrado o retorno à juventude na pessoinha linda do meu primeiro neto. Com o Theo volto nos anos. Junto a ele esqueço-me dos desenganos. Até mesmo as agruras por que tenho passado fogem-me à lembrança. Volto aos tempos de criança. Esbaldo-me com aquele sorrisinho inocente, com suas traquinagens infantis.

Confesso, dentro da minha incredulidade, que voltar aos verdes anos era missão quase impossível. De repente, não mais que num repente, ao ver meu querido neto nascer, estive presente na sala de parto, ao constatar que a vida se renova a cada dia, uns morrem outros nascem, reencontrei a antiga mocidade. No choro lindo de uma criança recém-nascida.

Pensava, na minha mocidade perdida, que seria tarefa inexequível voltar no tempo. Ledo equívoco.

Hoje Theo me provou ser possível rejuvenescer. Alguns anos mais. E quando nascer outro neto? E quando o segundo despontar ao mundo? Por certo estarei mais jovem um ano ou mais. Tomara outros netos despontem rumo a vida. Através deles, juntinho a eles, afinal, penso, imagino, não morrerei nunca. Ficarei encantado através das diabruras deles. Através deles não faltarei jamais.

Tenho feito de tudo para voltar nos anos. Exercito-me furibundamente. Não tenho vícios maiores. Aposentar-me? Jamais.

Mas, mesmo fazendo acontecer tudo isso, o espelho mostra em mim a inclemência dos anos.

O cabelo se foi faz tempo. A maciez da pele desapareceu no tempo. O sorriso ingênuo se tornou menos cético. A visão não é mais como dantes. Apenas a clarividência ainda se mantém intacta. Não sei por quanto tempo mais.

A fórmula tão sonhada de voltar nos anos a descobri depois do nascimento do meu primeiro neto. Que venham outros. Dois, três, ou mais. Aí, cercado de pessoinhas maravilhosas, brincando junto deles, por certo estarei voltando nos anos. E não morrerei tão cedo.

Basta para isso não deixar a criança adormecida dentro de cada um de nós deixar as brincadeiras de lado. Se possível for, não deixarei, jamais.

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