Matheus

Desde pouco o conheci.

Sempre imerso numa piscina de águas mornas, tentando aprender a nadar.

Era bem jovem o rapaz. Pelas suas feições alegres, tentando se aproximar de outros colegas, nadadores do clube para onde sempre vou, ao cair das tardes, previa que o jovial Matheus teria por volta de menos de quinze anos. Se tanto.

Foi fácil, logo da primeira vez, conversar com ele. Apresentei-me como sendo médico. Matheus arregalou os olhinhos escuros, dentro daquele corpanzil moreno, e apertou-me a mão.

Atravessei a piscina algumas vezes apenas. Estava um dia quente. Abafado, céu azul, nenhuma nuvem a indicar a presença de chuva naquela hora tardia.

Matheus já estava por ali há tempos esticados. Ele, ao atravessar a piscina, descolocava uma enorme quantidade de água, dado ao seu corpanzil imenso. Parece, pela primeira vista, que o jovem não gostava de se mostrar fora d’água. Talvez, imaginei, que sua aparência um tanto obesa causava-lhe vergonha.

Mas como era simpático o recém-amigo. Sempre sorridente, afável, Matheus me cativou logo ao primeiro contato.

Passamos a nos encontrar sempre a mesma hora. Depois da academia me lançava à piscina onde estava o amigo de pouco tempo.

Ontem, como estávamos apenas eu e ele na piscina, tivemos tempo de conversar por mais tempo.

Matheus não era sócio daquele clube. Apenas lhe era facultado nadar. Ali passava horas esquecendo-se dos seus problemas. A obesidade o incomodava. Talvez dado ao seu aspecto fora dos padrões dos atletas que ali frequentavam era o pobre Matheus rechaçado do convívio dos demais jovens que ali mostravam seu físico apolíneo.

Era eu o único amigo do jovem Matheus. Os outros dele não se acercavam. Creio que alguns até troçavam do seu físico avantajado.

Começamos a nossa prosa pelo começo.

Perguntei em qual colégio estudava. Matheus, com aquele sorriso escancarado, respondeu-me que cursava o segundo grau de um colégio estadual. Pertinho de sua casa. Num bairro de má fama. Onde a maioria usava drogas. E não eram companhia que prestasse.

Continuando a conversa quis saber quem eram seus pais. Logo ele me respondeu que era filho de pais separados. Mal conhecia o pai. A mãe, doméstica, mal tinha tempo para se dedicar ao filho mais velho.

Segundo ele era aluno exemplar. Gostaria de continuar os estudos. Quem sabe, caso a vida lhe desse oportunidade, escolheria a medicina para servir ao próximo. Era bom aluno em ciências humanas. Mas, não se saía mal em exatas. No ano vindouro tentaria o ENEM. Estudava com afinco. Era esforçado e dedicado. Não perdia um dia de aula.

Ficamos mais de meia hora naquela conversa boa. Os outros nadadores brincavam noutra parte da piscina.

Antes de deixar o novo amigo tentei ajudá-lo a superar o maior incômodo que o afligia: o sobrepeso.

Combinamos que sua mãe, ou algum parente, me procurasse num postinho de saúde. Onde compareço às terças-feiras. E não era preciso agendar consulta.

Quem sabe um especialista em glândula ajudasse ao Matheus a perder peso. Quem sabe alguma doença glandular fosse responsável pelo excesso de gordura acumulada naquele corpanzil jovem ainda.

Deixei a piscina depois de apertar a mão do sorridente Matheus. Espero poder ajudá-lo. Dentro das minhas possibilidades.

Quem saberia dizer, depois de alguns exames, de uma dieta balanceada, meu novo amigo conseguiria realizar seus sonhos?

Tomara Matheus, com sua simpatia marcante, na próxima vez que nos encontremos, num dia qualquer, consiga se aproximar das pessoas, não constrangido com sua aparência obesa.

Ele merece o melhor. Da minha parte farei o possível para que Matheus consiga não apenas perder peso, bem como ter sucesso na vida.

Aquele jovem, com sua simpatia marcante, com seu sorriso escancarado, merece não apenas ter um futuro melhor. Assim como outros jovens que existem por aí, sem a menor chance de terem um porvir mais auspicioso, dada a sua aparência um tanto quanto diferente dos padrões de beleza em moda.

Matheus me inspira coisa boa. E geralmente não me equivoco com as pessoas.

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