E eu que pensava ter todo o tempo do mundo

Como as horas, minutos, instantes, caminham rápidos com o passar do tempo.

Antes tínhamos a idade da mocidade. Recuando no tempo éramos bebês.

Tudo me levava crer, na tenra infância, que não cresceria tanto. Como era bom ser menino.

Nada nos preocupava além das brincadeiras e as férias de final de ano. Doce inocência.

Mas, infelizmente o tempo passava. A gente crescia. Éramos levados à escola por nossos pais. Contrariados, com a cara fechada, vestíamos aquele uniforme, que nem era do nosso agrado. E passamos metade do tempo de criança, jovens feitos, estudando para nos tornarmos alguém.

Os folguedos mudaram. Aquele caminhãozinho vermelho, de madeira, feito por algum presidiário, hoje pertence ao passado. Aquela patinetezinha foi esquecida num canto qualquer. Quantos brinquedos fizeram a nossa alegria. Quantas horas amenas passávamos naquele parquinho que hoje se tornou um espigão enorme, que empana a visão da serra que de aqui se avista.

Quantas horas enternecidas passamos ao lado de nossos pais. Agora eles não mais estão aqui. Se foram para junto de alguém, que não se deixa ver, mas existe.

O tempo passou. E eu, agora não mais criança, me tornei avô de três meninozinhos lindos. Creio que através deles, por eles, de novo possa me tornar aquele jovenzinho que o tempo levou.

Antes, sonhador que sempre fui, pensei ser imune ao passar dos anos. Sonhos levianos. Doces quimeras. De nada adiantou desejar continuar a ser menino. Se agora o que restou do eu menino virou conto de mentirinha.

Os cabelos lourinhos cederam lugar a uma calva coberta nas têmporas por fios grisalhos. O que sobrou daquele sorriso infantil nada mais restou. Aquela menina, com quem brincava no jardim da infância agora se tornou outra avó. Os amigos de quando menino muitos já se despediram desta vida. E hoje moram no céu, ao lado de Nosso Senhor.

Antes pensava, como Peter Pan, nunca mais crescer. Mas apareceu, do nada, a tal fada Sininho que tentou incutir juízo em minha cabecinha oca, e agora deu no que deu. Em ancião me transformei.

Como seria bom não envelhecer tanto. Não permitir que a velhice nos transforme num sapato velho, furado na sola, encostado num lixão qualquer. Como seria maravilhoso continuarmos, mesmo ficando idosos, com a mesma disposição de menino, saudáveis e com o mesmo desejo de continuar a vida como era antes. Bulindo com os colegas. Tendo hora para recreação. Estudar quando a vontade dava. E namorar sem más intenções.

Pena que o tempo passa. Até a uva vira passa. As horas caminham sem nos dar tempo de pensar no tempo. A gente fica velho sem tempo de contestar o tiquetaquear dos relógios.

Antes, nos verdes anos da minha juventude, nem tinha tempo para pensar no desenrolar dos anos. Era jovem ainda. Infantil, sem juízo, para me preocupar com o que viria pela frente.

Agora, prestes a completar setenta anos, faltam alguns meses apenas, quem sou eu para vaticinar o quanto de tempo me sobra? Vou simplesmente deixando o tempo me levar. Para onde? Nem eu sei. Só sei que a cada ano que passa vou ficando velho. Tomara não tanto quanto aquele sapato furado na sola, que alguém jogou fora, e não quis mais.

Agora, não sei quando vai ser a minha hora de se despedir da vida, nem desejo imaginar, qual vai ser o dia, não mais penso ser imune ao passar do tempo. Ele passa. Veloz para muitos. Lento para quem não pensa tanto no desenrolar do tempo. Mas, em mim nasce uma certeza. Antes estava em dúvida de quanto tempo mais terei pela frente. Agora me contento a me ver pelas costas. O quanto fui feliz e ainda sou. Pais decidi não mais pensar tanto nos anos que me restam. Reaprendi a pensar apenas no presente. Pois alguém me disse que o futuro a Deus pertence. Realmente, acabei crendo.

Já que não tenho mais todo o tempo do mundo, contento-me em viver as sobras. Com a mesma alegria de dantes. Sem deixar que a saudade dos verdes anos me faça chorar. Pois a vida que vivo agora é tão boa quanto foi outrora. Um ponto final nas preocupações como o desenrolar do tempo. Deixo-o apenas passar. Devagar, rápido, do modo que ele quiser. Aprendi a me satisfazer com o que há de ser. Será?

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