Por que será?

O porquê dos porqueres sempre me fez pensar na vida desde menino.

A curiosidade de saber sempre mais me fazia perder em pensamentos.

Por que razão, pensava eu, existem tantas crianças ao desabrigo conquanto outras vivem em lares bem estruturados, felizes da vida por serem abençoadas desde quando nascidas.

Tudo isso me fez recordar da minha infância.

Nasci na linda Boa Esperanca. Por um acaso meu pai ali trabalhava. Numa casa bancária, que ainda tem o nome do Brasil.

Mas logo nos mudamos para esta cidade linda. Que tem a serra da Bocaina como moldura. Que aqui do alto se deixa ver um naco dela. Neste dia de sol que se irradia desde cedo.

Uma vez nesta cidade, com muita justiça chamada dos Ipês e das Escolas, daqui me considero. Poucas vezes daqui me mudei. Mas logo voltei para fincar raízes. Bem fincadas neste cenário o qual amo tanto, embora com seus problemas, quem não os tem?

Da minha Lavras parti em busca de novos aprendizados. Uma vez feito médico na bela Espanha passei um ano inteiro. Foi lá que me aperfeiçoei.

Já desapareceram da lembrança quarenta e dois anos desde quando aqui cheguei.

Foi aqui que constitui família. Foi aqui, nesta mesma cidade, que construí toda uma vida. E por esta razão sou profundamente agradecido a minha cidade. Não de berço, de coração.

Caso tivesse nascido em outro lugar, em outro ninho, teria tido o mesmo destino? Seria feliz como me sinto agora. Seria o destino traçado desde quando nascemos? Ou seriamos nós os verdadeiros donos do nosso destino?

Por que será que tantos meninos nascem em lares bem estruturados, oriundos de pais que a eles dedicam imenso carinho, enquanto outras crianças não têm a mesma sorte? E passam a infância mendigando migalhas, vivendo de sobras, sem a mesma chance que eu tive?

Por que seria que tantos caminhos levam ao sucesso, conquanto outros repetem o fracasso tão comum nos tempos difíceis por que passamos?

Mais uma vez indago. Por que seria que a vida sorri para algumas pessoas e outras, infelizes morrem ao desabrigo, sem ao menos saberem a razão de tal fato acontecer?

Tantos porqueres me povoam os pensamentos. Tantas dúvidas me fazem pensar no momento.

Noutro dia, ao ir ao banco, pagar uma conta, percebi, a sua porta, um pedinte esmolando de mãos postas. Relutei em lhe dar esmola. Fi-lo pensando no que ele iria fazer com aquela importância irrisória. Se ele iria comprar o que comer ou se tal soma seria dedicada a alimentar-lhe um vício qualquer.

Por que motivo tantas pessoas, jovens, idosas, passam a vida inteira imersas em sua miséria, conquanto outras desfrutam de uma opulência que nos ofende os olhos? Vivemos em dois mundos. Aquele que afronta a dignidade humana e outro onde abastados vivem nababescamente.

O razão da disparidade entre estes dois mundos me faz pensar na alegria e na tristeza. Como seria bom caso estas diferenças não fossem tão marcantes. Se entre os ricos e os miseráveis não existisse esta linha divisória de certa forma preocupante.

Por que será, não me canso de perguntar, caso o nosso país, tão lindo e cheio de diversidade, não cuida de minorar o fosso social tão acachapante, reduzindo a pobreza, des-alimentando a riqueza, cuidando de atenuar a miséria, não permitindo que crianças sejam deixadas na rua, abrigando-as em locais onde consigam se tornar pessoas de bem, num futuro bem perto, não tão longe de ser alcançado.

Por qual motivo tantos idosos são abandonados à própria sorte. Asilados numa casa onde falta tudo, incluso o carinho das famílias que abandonaram os pobres velhinhos à própria desgraça. Não seria mais conveniente se eles descansassem, para sempre, ao lado dos filhos que eles próprios ajudaram a criar?

Tantos porqueres me fazem pensar. São tantos quantos pude observar nos meus quase setenta anos.

Espero, antes que a vida passe, estes tantos porqueres tenham a reposta devida. E eu, dentro da minha descrença, acredite que um dia vai melhorar.

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