Mais um sem perspectivas

Aquele menino nasceu num dia de cerração intensa. Não se via nada na linha do horizonte.

O sol ainda dormia. O azul do céu não era visto naquela hora temprana.

Tudo estava esfumaçado. O cinzento predominava.

Não fazia frio ainda. Embora o mês de maio estivesse pela metade. Nenhum sinal de chuva no alto. A chuva se despediu daquele lugarejo esquecido por tudo e por todos. Quem por ali passava logo pensava que havia se equivocado pelo caminho. E logo retrocedia por aquela estradinha vicinal. E nunca mais aparecia naquele lugarzinho pobre. Sem nenhuma perspectiva de desenvolvimento.

Zezinho nasceu numa noite sem lua. Céu escuro, dia emburrado. A mãe do menino expeliu o concepto em sua casa. Sem assistência de ninguém.

Dona Josefa era uma mulher de fibra. Fazia às vezes de pai e mãe. Já que o pai de Zezinho havia partido sem dar notícias. Dizem, nos arrabaldes, que foi por causa de uma mulher de vida fácil. Com ela se escafedeu. E nunca mais voltou. Nem mesmo quis saber da existência do filho. Pai ingrato. Como muitos que perambulam pela vida.

O menino Zezinho foi criado pela mãe. Apesar da pobreza que viviam tinha tudo que queria. O menino Zezinho teve uma infância tranquila.

Estudou alguns anos numa escolinha rural. Depois a mesma escola se mudou pra cidade. Deixando na saudade todas as crianças nascidas naquela região pobre. Afastada da civilização e de todos os recursos que deveriam ser oferecidos às crianças de nossa nação.

Felizmente Zezinho, até aquele momento, encaminhou-se pelo caminho do bem. Dona Josefa, mãe extremada, embora tivesse outros filhos de outros pais, tinha pelo menino verdadeira adoração.

Por ele tudo fazia. Educava o menino como se fosse um bem nascido. Embora tudo naquele lugar fosse desprovido de qualquer coisa que indicasse um futuro alvissareiro.

Aos cinco anos Zezinho recebeu a visita de uma tia que morava na cidade. Foi ela quem levou o menino para morar com ela.

Foi uma despedida chorosa naquela manhã de inverno. Mas a mãe de Zezinho, confortada pela irmã, acabou concordando que a mudança seria o melhor para o filho.

Uma vez na cidade Zezinho foi matriculado numa escola de bom conceito. Era um colégio mantido pelo estado. Ali Zezinho teve uma educação esmerada. Embora outros colegas trilhassem o caminho das drogas.

Uma vez feito grande, aos quinze anos completos naquele dezembro fatídico, quis o destino que o jovem menino tivesse a primeira experiência negativa com as más companhias.

Um colega de má índole acabou levando o inocente Zezinho a experimentar, pela primeira vez, um baseado de maconha. Dai a passar a usar outras drogas pesadas foi um salto grande para um menino desacostumado a vícios maiores.

Zezinho deixou de estudar. Enveredou-se pelo mau caminho.

Graças às más companhias foi pelo caminho do tráfico. Foi preso aos dezoito anos. Passou um ano inteiro na cadeia. Evadiu-se numa manhã chuvosa. Uma turma da pesada foi quem influenciou Zezinho a deixar a cela onde estava.

Zezinho, bandido feito, aos vinte anos passou a assaltante de banco. Numa manhã madrugada mais uma vez foi preso portando arma. Passou mais de dois anos naquela cela escura. De onde saiu três anos depois.

Dizem que sentenciado não tem como se recuperar. Isso de ressocialização não existe em nosso país.

Foi assim que Zezinho passou a mocidade. Entre idas e voltas à cadeia. Naquela vida que não se pode chamar de vida.

A mãe Josefa, sabendo do destino do filho amado, acabou vitima de um mal súbito. Foi encontrada morta na cama. Dizem que ela orava pela alma do filho ingrato.

Uma vez, quando o jovem Zezinho participava de um assalto à mão armada, foi atingido por uma bala de fuzil. Foi salvo pela competência de um cirurgião que o operou. Livrando-o de morte certa.

O assaltante consumado, bandido irrecuperável, passou dois meses entre a vida e a morte.

Mas, por sorte dele, e azar da sociedade, novamente se recuperou. Reincidiu no crime. Voltou às ruas ainda pior.

Aos trinta anos novamente foi preso por vadiagem. Zezinho nunca mais voltou ao crime. Foi encontrado morto numa cela escura.

Isso acontece todos os dias. Em nosso Brasil. Um país iluminado por Deus. E bonito por natureza. Mas paira entre nós uma triste realidade.

Quantos jovens sem perspectivas existem? Quantas mortes poderiam ser evitadas. Estamos à mercê de problemas de fácil solução. Tudo passa pela educação.

Zezinho, e outros mais, são jovens sem perspectivas de um futuro melhor. O que fazer para mudar o status quo? Depende de tanta gente. Inclusive de nós.

Deixe uma resposta