A vida como ela deveria ser

Filosofar sobre a vida por vezes faz parte do meu amanhecer.

A gente vive sem saber o porquê.

Nem eu mesmo sei exatamente a razão de tantos porqueres existem. Este, que termina a frase acima, nem sei se é assim que se escreve. Talvez seja uma palavra separada. Ou assim mesmo. Juntinha. Como um circunflexo no último e.

O porque dos porqueres me intriga. Por que razão uns vivem tanto? Por que outros vivem tão pouco? Por que motivo alguns são felizes? São vários porqueres que me põem a pensar.

No meu caso a vida tem me presenteado com incontáveis graças.

Nasci numa família bem estruturada. De pais amantíssimos. Que infelizmente nos deixaram. Há tempos idos.

Já outros meninos, com outros destinos, enveredaram-se por outros caminhos. As drogas fizeram deles arremedos de gente. Muitos já morreram. Como alguns amigos de infância.

Hoje conto com quase setenta anos. A vida tem sido magnânima para comigo.

A saúde ainda me consome por dentro. Não tenho vícios maiores a não ser escrever.

A visão acurada tem sido remediada por algumas poucas cirurgias. Felizmente ainda enxergo como uma águia. As pernas, então, movem-se como o furor do vento. O corpo que levo comigo ainda resiste à inclemência dos anos.

Nesta altura da minha vida não tenho motivos para queixumes. Tenho uma esposa que me sustenta. Principalmente nas horas que mais preciso. Dois filhos saudáveis me presentearam com três netinhos. Hoje em dia vivo pertinho de dois deles. Theo e Dom ainda dormem. Tomara um sono tranquilo. Já o lindo Gael mora em outra cidade. De vez em quando ele aparece. Trazendo com ele mais felicidade a minha vida.

Bem sei que a vida me tem sorrido. Mas nem sempre é assim que tenho observado nas minhas andanças pela cidade.

Conquanto uns tenham de tudo. A outros lhes falta o mínimo.

Como seria bom se todos os seres viventes tivessem as mesmas oportunidades que a vida me presenteou.

A vida deveria ser menos dura, de maior sabor, de melhor cor, para que todos pudessem admirar um dia lindo como este que acordou neste quinze de maio. Pena que muitos sofrem de enfermidades várias. E se encontram internados em leitos de hospitais.

A vida não deveria ser tão desigual. Soberbamente neste país continental.

Enquanto a maioria detém quase a totalidade da renda nacional outros mendigam as sobras dos opulentos.

Enquanto alguns são felizes outros padecem de depressão.

Enquanto eu enxergo a vida por um prisma de felicidade genuína outros semelhantes sofrem a amargura de não terem sequer um lar onde possam descansar.

Bem sei que a vida não deveria ser assim. Mas ela é. O que fazer de mim?

Por isso sofro. Por esta razão me angustio.

A explicação que encontro é devida a maldita sensibilidade. Que me cavouca a alma. Consome-me as entranhas.

A vida deveria ser como eu imagino. Feita apenas de dias de sol como este. Mas de vez em quando chove. Como por vezes chove dentro de mim.

Um dia, quem sabe quando, consiga viver a vida exatamente como eu imagino. Seria utopia? Seria mais um devaneio meu?

Dentro da minha imaginação fecunda sonho com dias melhores. Para o nosso país. Para o mundo inteiro.

Já que não posso mudar a situação em que nos encontramos pelo menos sonho.

E coloco meus sonhos nestas crônicas que nascem todas as manhãs.

Enquanto eu viver. Espero.

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