Oração da manhã

As indefinições sempre fizeram parte de minha vida.

Hoje amanheceu um lindo dia de sol. Ontem a manhã foi cinzenta.

Ora estamos alegres. De vez em quando a tristeza predomina.

O calor alterna-se com o frio. A chuva sobrepõe-se aos dias ensolarados.

O que vai ser de mim nesta sexta-feira, quase meio de junho? Acredito, tenho fé, que vai ser igual a outros dias por que tenho passado.

Acordo ao despertar do dia. Escrevo numa rotina de deixar meus dedos cansados de tanto digitar. A partir das oito começo a trabalhar. Hoje, final de semana tendo início, saio mais cedo deste lugar tão aprazível. Como me faz bem olhar a serra que daqui se avista. Hoje ela se mostra de corpo inteiro. Como se fora uma moldura linda a enquadrar a cidade onde moro e vivo feliz desde que me conheço por gente.

O que seria de mim não fosse a saúde que tenho como companheira desde quando atingi a maior idade? E se estivesse a mercê de enfermidades que quase sempre acompanham os de mais idade? E se por acaso não pudesse caminhar. Correr ao final das tardes. Escrever como sempre faço?

O que vai ser de mim quando não mais puder acompanhar o ritmo frenético dos meus queridos netos? Não for capaz de brincar com eles quando os mesmos despertam?

Quantos anos mais me restam de vida? Quantas linhas mais escreverei? Até hoje nem sequer imagino.

Hoje o sol brilha forte. Amanhã é sábado. Depois de amanhã cai num domingo.

Será que amanhã, no mais tardar depois de outro amanhã, estarei observando a linda vista que se descortina da minha janela? Seria?

Só sei que cada vez menos sei. E assim me contento. Satisfaço-me em viver simplesmente. Refém da minha inspiração. Da felicidade e amor que tenho pela vida.

Caso fosse pensar no amanhã, no que vai me acontecer de agora a alguns minutos, não seria capaz de viver simplesmente. Por isso vivo sem me preocupar com o tempo. Não percebo o mesmo tempo se esvair. Nem sinto o envelhecer.

Hoje, meados de junho, nesta sexta-feira encantadora, véspera de mais um final de semana, espero o tempo passar. Não conto o tempo que me resta. Simplesmente vivo o tempo presente. Sem me atazanar.

O que seria se entre eu e os anos não se interpusessem enfermidades. Seria uma aberração. Não seria humano.

Hoje tenho saúde a dar aos outros. Amanhã não sei o que me reserva.

Será que a sorte sempre me vai acompanhar? Seria? Faço por onde. Trabalho. Esforço-me em caminhar sempre. Pratico a profissão que sempre me aprouve. O que seria de mim caso não fosse assim?

Felizmente nasci de um lar bem estruturado. O que seria de mim caso fosse o contrário?

A vida tem me presenteado com tudo que desejo. Felizmente só tenho a agradecer.

E quando a vida me privar da felicidade? Ao invés de saúde for jogado a um leito de hospital?

Aí, nesta encruzilhada, quando não mais puder decidir o que for melhor pra mim, que me deixem voar. Partir. Rumo a um lugar ainda indefinido. Tomara seja o céu que hoje se mostra azul. O mesmo céu onde moram meus pais.

São tantos serias, tantas indefinições que me assaltam, que penso em não pensar tanto. Como seria bom não viver submerso a tantas questões. Mas, infelizmente, sou assim.

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