Saber envelhecer

Ninguém escapa ao passar dos anos.

Quando se vê, não mais temos vinte anos. Ao menor descuido, os trinta se foram. Quarenta, passamos os cinquenta, e lá se vão os anos.

Longe ficou a nossa infância. Quem diria que aquele menino, de calças curtas e ideias longas, ficaria no passado. E mais uma vez lá se foi o tempo. Com permaneceram as nossas lembranças.

Ainda me lembro dos meus verdes anos. Ainda tinha cabelos no alto da cabeça. Na face lisa um bigode negro encobria a parte de cima dos meus lábios. Um olhar altivo. Toda a esperança do mundo fazia parte dos meus sonhos.

De repente passaram-se os anos. Vi-me feito avô. Minha esposa acompanhou-me no passarinhar da idade. Adeus mocidade. Até logo doce infância.

De repente envelheci. Mas nem senti o tempo passar.

Aprendi que o envelhecer a ele não ficamos indiferentes. No entanto, desde que acumulei anos aos meus desenganos, aprendi que se pode ficar velho sem sentir.

Basta para isso não desaprender a sorrir. Acompanhar os jovens em seus costumes. Vestir-se segundo a moda dita. Mesmo que o andar titubeie, que a audição claudique, façamos de conta de que somos todos ouvidos.

Embora concorde que o sono do velho dura pouco, que ele acorda durante a madrugada para verter urina, acordemos dispostos a enfrentar um novo dia. Pois, vivendo com alegria a vida passa e a gente nem percebe.

Hoje, quase nos meus setenta anos, quem me vê caminhando, correndo ao fim da tarde, procurando me inteirar das novidades, não enxerga o velho que se apoderou de mim. Em absoluto não me sinto velho. Mesmo prestes a entrar nos setenta, sabendo das minhas prerrogativas de idoso, uma vez entre os meninos procuro falar a mesma língua que eles falam. Deixo-me cavalgar pelos meus netos. Quem me vê entre os meninos mal sabe quem é um, quem é o outro. Talvez seja muita pretensão do idoso que vos fala. Ou que escreve.

Aprendi a envelhecer com qualidade. Exercito-me todas as tardes. Uso a internet no meu dia a dia. Deixo o carro na garage. Se bem que use o transporte coletivo para ir ao trabalho ainda sei dirigir meu próprio carro.

Saber envelhecer condignamente, mesmo neste mundo dedicado aos jovens, que podem desdenhar dos velhos, fica aqui o meu conselho. Não percam a dignidade. Não deixem que os mais jovens pensem que você é uma carta fora do baralho. Apesar dos nossos muitos anos ainda somos capazes de ensinar aos mais jovens que eles caminham adiante. Ninguém continua criança indefinidamente. A mocidade passa. Como a uva vira passa.

Ainda sou produtivo dentro da profissão que elegi. Embora um tanto quanto ausente dos hospitais ainda trabalho quase na mesma intensidade de dantes.

Hoje faço apenas o que me apraz. Estou longe de ser mais um aposentado. Meu pai dizia: “o ócio é o começo do fim”.

Aprendi a envelhecer com qualidade. Acordo cedo. Escrevo o que minha inspiração dita. Atendo de segunda a sexta-feira. Reservo os finais de semana para o descanso.

Se um dia me disserem, você está ficando velho, não tenho como discordar. Concordo com ressalvas.

Bem sei que a vida é efêmera como um raio de sol. E eu procuro viver a vida em sua plenitude máxima. Antes que alguém me convide para ir a outro lugar.

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