Contrariando os vaticínios

Para quem acorda àquela hora madrugada, com o frio que anda fazendo, deixar a cama é um enorme sacrifício.

Do lado de fora da casa a temperatura oscilava entre cinco e sete graus. Tudo se mostrava branco. Como se salpicos de neve houvessem caído durante a noite escura.

Zé Arruela acorda ao cantar do galo. Naquela manhã fria o galo não cantou. Decerto estava dependurado no poleiro. Enrolado a alguma galinha, com a qual durante a noite fez amor.

Era exatamente quatro horas quando o trabalhador Zé deixou a casa. Tomou um cafezinho magro. Roeu um pão adormecido. E se foi rumo ao curral ordenhar a vacada. O leite era a única fonte de renda daquele homem da roça. Que amava as vacas e nem tanto os animais que as dizem possuir.

Era mês de julho em sua metade. Em pleno inverno, quando a pastaria ressequida amanhecia com aquela cor amarelada. Tinta de branco, devido à geada.

Zé estava acostumado aquela vida dura de gente que não se acostumou a cidade. Caso o tirassem dali seria a sua perdição.

A previsão da meteorologia era de tempo bom até o final do mês. Só mesmo em finado outubro deveria chover novamente. O frio iria continuar por mais trinta dias. Uma nova frente fria foi anunciada por aquela mocinha simpática que aparecia na televisão.

Zé nunca acreditou no que diziam as previsões. Acreditava sim nas fases da lua. Se minguante ou cheia. Se crescente ou nova.

Conforme seu pai o ensinou, de tanto viver na roça Zé sabia como poucos a época da vaca dar cio. Da roça de milho ser plantada. De a égua ser coberta pelo garanhão. Até quando o pássaro preto deixa seus ovos no ninho do tico-tico. E, assim que os filhotinhos nascem a mãe ticoticozinha passa a cuidar dos passarinhos como se fossem dela.

Naquela noite fria, ao assistir o noticiário das oito, a moça do tempo anunciou que no decorrer do dia iria chover. Zé olhou pro céu, contou as estrelas e dormiu pensando no vaticínio da moça do tempo.

Bem sabia ele que nada daquilo iria acontecer. Segundo seus conhecimentos sobre a vida no campo, naquele mês de julho frio, céu azul, nenhuminha gota de água iria despencar do alto. O tempo continuaria seco. O sol iria brilhar. As nuvens não se atreveriam a entrar em cena. A tão sonhada chuva cairia somente depois de alguns meses.

Zé, naquela quarta-feira, dezessete de julho, mês de férias para as crianças, quem disse que Zé tinha direito a férias, já que o retiro era uma verdadeira escravidão, acordou sem ter dormido.

Sonhou com uma chuva extemporânea. De acordo com as previsões da moça do tempo iria chover no decorrer do dia.

Deixou a casa antes das cinco da manhã. Olhou pro céu e tudo estava escuro. Nem mesmo uma estrelinha solitária morava no alto.

Foi ao curral ordenhar as vacas. Antes das sete já estava enchendo os cochos de silagem de milho misturada a cana picada de véspera.

O céu continuava escuro. Nenhuma nuvem se mostrava aquela hora.

Foi quando se lembrou das previsões da meteorologia. De quando a moça do tempo anunciou chuva no decorrer da tarde.

Era mais ou menos dez horas da manhã quando Zé Arruela foi almoçar. E nada de presença de nuvens cinzentas no alto. O céu continuava azul. O sol brilhava com grande intensidade.

Acontece, para quem entende de previsões do tempo, quem nasce na roça bem sabe de quando vai chover, no decorrer do dia, quando o relógio das horas mostrava três e meia, nuvens escuras começaram a aparecer. Seria indicio de chuva?

Zé, descrente do que dizia a mocinha do tempo, não acreditando nas previsões, durante a segunda ordenha, antes de soltar a derradeira vaca, olhou em direção ao céu escuro, persignou-se contrito, e, de repente caiu uma aguaceira danada. Que acabou provocando um verdadeiro dilúvio nas cercanias.

Zé, antes descrente, agora passou a acreditar nos vaticínios da moça do tempo. E jurou, que dali em diante, passaria a crer nas previsões da meteorologia. Foi quando acordou e viu tudo como era dantes. Dias ensolarados. Pastaria ressequida. E nenhum indício de chuva no alto.

A partir de então Zé Arruela nunca mais assistiu a televisão.

 

 

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