O que me falta para ser feliz?

Hoje acordei com uma estranha sensação de tristeza. Embora o dia se mostre claro, sol brilhando, um frio incômodo percorre-me a alma.

Por vezes acontece. Sem motivo aparente a alegria desparece de meu semblante sempre risonho. Simplesmente acontece. Sem que nada possa fazer, apesar do dia lindo que se mostra do lado de fora da minha janela, dentro de minhalma a tristeza impera.

Este sentimento inexplicável é próprio de quem tem a alma sensível. Inerente aos poetas.

Fico triste mesmo tendo todos os motivos para me tornar feliz. Bem sei que a felicidade existe. Pena que por vezes não consigo encontrá-la. Procuro-a, nos lugares mais prováveis, e ela se esconde. E uma angústia inexplicável consome as minhas entranhas. É como se um punhal me fosse ensartado dentro do peito. Sem que perceba a razão do meu sofrimento.

O que me falta para ser feliz? Por vezes me indago. Tenho todos os motivos para ser feliz.

Filhos perfeitos. Uma família que só me dá razão para encontrar a tão procurada felicidade.

No entanto, como aconteceu nesta sexta-feira, final de semana, embora o sol brilhe forte, tento encontrar a alegria e ela escapa.

Escapa-me por entre os dedos. E não mais consigo encontrá-la.

Talvez me falte a mocidade. Já que a infância se foi há anos passados.

Quem sabe devido a saudade, dos tempos pretéritos, sinto-me triste. Preocupa-me a ansiedade que domina meus pacientes. Nestes tempos difíceis. Quando o emprego escasseia.

Ainda me recordo dos verdes anos da minha infância perdida. Quando era quase um menino. Igualzinho ao meu primeiro neto.

Talvez me falte para ser feliz por completo os sonhos que não se consumaram. A ambição que passou. A vontade de ser alguém. Já que nesta fase da vida já me tornei quase um ancião. Faltam-me as bengalas.

Sei que me falta alguma coisa. Um sentimento inexplicável apoderou-se de mim. Nesta manhã de sexta-feira. Queria ficar na cama um pouco mais. Mas foram debaldes as tentativas.

Acordei sem ter dormido. Levantei-me num átimo. Lavei o rosto na água fria. Pus-me de pé. Numa fração de segundos.

Agora, antes das sete da manhã, já no consultório, liguei o computador. Tentei escrever. Abortei dois textos. A inspiração não veio.

O que acontece comigo nesta sexta-feira? Falta-me alguma coisa. Indefinível.

Amanhã é sábado. Depois nasce o domingo. E outra semana vem. Quantas mais presenciarei?

Hoje sinto que me falta alguma coisa para ser feliz.

Procurei em todos os cantos a tal felicidade. E mais uma vez ela se escondeu de mim.

Talvez mais tarde a encontre. Na alegria dos meus netos. Nos seus olhinhos risonhos.

Quem sabe, no decorrer do dia, desta sexta-feira ensolarada, fria, quando entrar em casa, e ver, nas carinhas enfeitadas de felicidade daquelas pessoinhas lindas, talvez encontre dentro de mim este mesmo sentimento de alegria. Que ora me falta.

Afinal, tudo tenho para ser feliz. Mas por vezes não consigo.

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