Aquele homem pontual

Sempre, a mesma hora, contava os minutos, segundos se passaram, aquele homem madrugão acordava sempre ao mesmo horário.

O relógio de cabeceira apontava antes das cinco da manhã. Já de pé Fernando lavava o rosto, escovava os dentes, ia ao vaso sanitário pontualmente, exonerava os intestinos, tomava um cafezinho magro, e saía ao trabalho a mesma hora costumeira.

No mesmo ponto de ônibus tomava a condução que o levaria ao trabalho.

Fernando era empregado numa padaria. Era o padeiro chefe. Aprendeu o ofício em menino. Já que o pai, senhor acostumado à lida pesada, falecido prematuramente aos menos de quarenta anos, foi quem lhe ensinou a arte de fazer pães.

Ainda criança estudou até a quarta série do primeiro grau. Depois, por força das contingências, teve de abandonar os estudos. Precisava trabalhar para manter a casa. Já que era filho único. E a mãe, sempre adoentada, clamava de enfermidades várias. Era uma hipocondríaca desde quando jovem.

Fernando, antes das seis da manhã, já estava no ponto de ônibus. Morava distante da padaria. Precisava tomar duas ou três lotações. Tudo dependia da sorte. E da boa vontade do motorista.

Levava mais ou menos duas horas para chegar ao trabalho. Começava a lida do dia pontualmente as cinco e meia. As dez pra seis já estava com os pães prontos a ir ao forno. Precisamente as seis os pãezinhos já estavam aptos a serem vendidos.

Fernando ganhava o suficiente para manter a casa. Não era uma importância a dar inveja a gente de posse. Mas Fernando era feliz ao seu modo. Naquela vidinha simples. Desprovido de ambição.

Aquele senhor pontual nunca se casou. Permaneceu solteiro o resto da vida.

Pontualmente as seis da tarde voltava a casa. Com o corpo exausto. Os ossos doíam. As pernas tremiam.

Assistia à televisão até certa hora. Em companhia da velha senhora. Cujo nome era Maria.

Dona Maria despediu-se da vida aos sessenta e oito anos. Deixou o filho solitário. Vivendo só naquela casa triste.

Fernando acordava pontualmente as cinco da manhã. Repetia a rotina como todos os dias.

Tomava a mesma condução. Fazia o mesmo percurso. E chegava pontualmente as cinco e meia. Naquela padaria costumeira.

Antes das seis já estava em casa. Cumpria religiosamente toda a rotina de cada dia. Aos sábados e domingos Fernando folgava. Pontualmente, mesmo estando desobrigado a ir a padaria acordava cedo. Fazia o café da manhã. E saía, a mesma hora de sempre, antes das seis, nas suas caminhadas costumeiras.

Cumpria sempre o mesmo trajeto. A caminhada se estendia por duas horas inteiras. No mesmo ritmo de sempre. A seguir, naquele sábado, sol a brilhar no alto, durante aquela caminhava matutina, Fernando sentiu-se mal.

Foi levado a um hospital. Aonde chegou pontualmente as seis da manhã. A mesma hora em que chegava a padaria.

Ali permaneceu internado por uma semana inteira. Recebeu alta bem melhor. O relógio de cabeceira assinalava precisamente seis da tarde. A mesma hora quando deixava a padaria.

Na segunda repetiu-se o ciclo. Fernando, já recuperado da sua enfermidade, acordou a mesma hora de sempre.

Tomou a mesma condução de outros dias. Voltou a rotina costumeira. Sempre pontual.

Até hoje, neste dia sete de outubro, Fernando repete a mesma rotina.

Ele é respeitado no trabalho por sua pontualidade de sempre. Daí a sua alcunha de Fernando Pontual.

 

 

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