Melancólico final de ano

Choveu a encher baldes a noite passada.

Pela janela se podia ver a tempestade cair.

Juninho acordou antes da hora costumeira. Preocupado com a plantação de milho que ameaçava ir por sol abaixo.

Aquele homem do campo, valente, aguerrido, apostou todas as fichas na roça de milho.

Fez um empréstimo no banco. Deu como garantia um trator novinho que havia comprado no verão passado.

Uma semana antes, depois de arar a terra, nela inserir sementinhas de milho, olhava pro céu todas as manhãs. E procurava ver, por entre as nuvens, qualquer indicio de que a chuva iria cair.

E apenas o sol olhava pra ele, com seus olhinhos brilhantes, e nada de escutar as suas preces. A chuva teimava em não despencar do alto. E ficava escondida com medo do clarume do sol.

Um mês se passou. A roça de milho não cresceu.

Juninho, desesperancoso, passava as noites em claro. Embora do lado de fora da janela predominasse a escuridão.

Naquela manhã, quase novembro fechando os olhos, caiu uma aguaceira de fazer qualquer um alegrar-se.

Foi quando saiu de casa. Caminhou até no alto do morro. E passou horas e horas admirando a terra molhada. Feliz pela chuvarada. Que ela continuasse mansinha por dias a fio. Para que a roça de milho fosse salva. E, tempos depois, uma colheita boa fosse a coroação dos seus esforços.

Pena que o que é bom dura pouco.

Naquela madrugada, quando a chuva despencou do alto, quando Juninho acordou, uma tempestade violenta pôs tudo a perder.

A roça de milho foi inundada. Não sobrou nenhunzinho pezinho de milho para contar a história. Toda a plantação foi perdida. A prestação do banco vencia naquele mês. E como pagar a dívida se tudo que Juninho possuía era vontade de trabalhar anos a fio.

Naquela manhã da chuvarada intensa Juninho saiu de casa. Fez o mesmo trajeto de todos os dias.

Foi caminhando desolado até a roça de milho. E admirou aquela paisagem hostil.

Meses depois, ainda pensando no prejuízo, Juninho não tendo como pagar ao banco, resolveu vender a propriedade.

Despediu-se daquele lugar com lágrimas nos olhos. E se mudou pra cidade pensando mudar de vida.

Era tempo de Natal. Morando numa pensão modesta, com uma importância irrisória para sobreviver, como não conseguisse trabalho, em pouco tempo se viu em dificuldades.

Passava dias e horas a procura de emprego. Como não tinha formação profissional, apenas concluiu o primeiro grau, portas não se abriam as suas pretensões.

As luzes de Natal acenderam-se naquela noite.

Juninho, ao andar pela cidade, lembrou-se de sua rocinha encantada. E como sentiu saudades daquela vidinha singela de antão.

Na contramão da felicidade Juninho experimentou o sabor amargo da solidão.

Aos quarenta anos perdeu a única coisa boa que possuía.

A esperança de dias melhores foi pelos ares.

Aquele ano, que em pouco termina, foi o pior ano que passou. Perdido em meio a multidão. Olhando as luzes de Natal.

Juninho, desconsolado, pensou em dar cabo da própria vida. Salvou-o uma mão amiga. Com quem vive até hoje. Naquele melancólico final de ano.

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