Dona Maria e a Black Fraude

Novembro acaba de deixar sua marca na vida daquela senhora.

A última semana foi deveras tentadora. O comércio anunciava remarcações nunca antes vistas.

Televisões a preço de banana. Eletrodomésticos em condições a perder de vista. Roupas de grife eram oferecidas quase que de graça.

Aquela rua central estava apinhada de pessoas que acorriam apressadas em busca de compras natalinas.

Dona Maria acordou antes do cantar do galo. Tomou um cafezinho magro requentado de véspera. Tomou um banho morno para espantar o sono. E vestiu a melhor roupa que possuía.

No dia anterior acompanhou pela televisão as ofertas tentadoras que eram anunciadas com estardalhaço. E foi atrás do tão sonhado aparelho de mais de não se sabe quantas polegadas.

Colocou naquela bolsinha dependurada no pescoço além de algumas notas graúdas o cartão de crédito recém-oferecido pelo banco. Ela nunca havia usado tal coisa. Era a primeira vez que Dona Maria fazia compras pelo tentador cartão.

Era precisamente cinco horas da manhã. O céu se mostrava cinzento. Uma chuva mansa prometia cair.

Depois de esperar pacienciosamente mais ou menos três horas inteiras dona Maria conseguiu entrar no estabelecimento. Não sem antes ser pisoteada por uma turba enfurecida. Quase foi ao chão. Salvou-a um segurança parrudo. Que por acaso simpatizou com ela.

A televisão tão almejada lá estava ela. Pelo tamanho da caixa deveria ser enorme.

Depois de amargar uma longa espera, de ter de enfrentar mais uma fila enorme para efetuar o pagamento, mais um percalço se interpunha entre o sonho de Dona Maria e seu desejo imenso de ter aquela televisão de muitas polegadas. O tal cartão de crédito não servia as suas pretensões. Faltava um pequeno detalhe para que ele fosse usado.

Dona Maria deveria passar pelo banco. Na intenção de que o cartão fosse liberado.

Assim o fez. Precisamente as oito e um cadinho a ansiosa Dona Maria voltou tal loja da televisão. Feliz da vida.

Com o cartão desbloqueado mais uma vez se dirigiu ao caixa. Só que desta vez a tal Blake Fraude havia terminado. O preço da tão sonhada televisão subiu às alturas.

Era exatamente o dobrou do indicado. Mesmo assim, como não queria perder a viagem, a aguerrida Dona Maria perseverou no desejo de levar pra casa o tão almejado produto. Pagou o novo preço. Em suaves prestações a perder de vista.

Para levar pra casa a tal televisão de muitas polegadas teve de ir de taxi. Que lhe cobrou os olhos da cara pela tal viagem.

Naquela noite, cheia de estrelas, assim que dona Maria chamou um técnico para ligar a tal TV o aparelho não seu sinal de vida. Depois de um estrondo ouvido pela vizinhança inteira nada mais restou daquela telona preta.

A chorosa Dona Maria retornou a loja para reclamar da compra. Foi atendida pelo mesmo vendedor com um sorriso de lagarto.

Foi ele mesmo que tentou explicar, sem a mesma paciência de dantes, que o produto da compra não tinha garantia. Era em verdade uma Blake Fraude que a infeliz Dona Maria tinha sido vítima.

Desde então, quando vejo aquelas filas imensas, mudo de passeio. Tenho medo de ser lesado. Com o dinheiro minguado penso ser melhor deixá-lo a salvo daquelas oferendas tentadoras.

Comprar apenas o necessário. Isso meu avô dizia.

Sábio conselho.

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