Enfim, férias…

Aquele ano em curso não foi nada fácil para aquele jovem.

O desemprego foi sua companhia durante todos aqueles doze meses.

Ao final de agosto, por fim, Juventino pensou que sua agonia teria um ponto final.

Depois de esperar longas filas o sonho do jovem Tino parecia ter acabado. Foi admitido numa fábrica de autopeças. Até que o salário era razoável.

Por doze horas de trabalho perceberia uma importância modesta. Mas seria o suficiente para prover-lhe as despesas. Já que era solteiro. E não tinha ninguém as suas expensas. Ele era ele e somente ele. E ninguém mais.

Um ano inteiro se passou. Era uma canseira danada. Acordar sempre a mesma hora. Tomar três conduções. Do apartamentinho onde morava até a fábrica o trajeto durava quase três horas. Salvo se um engarrafamento acontecia. O que era quase rotina.

Na fábrica Juventino era um operário exemplar. Cumpridor dos seus deveres. Assíduo no trabalho.

Enfim chegou dezembro. Um mês chuviscoso. Com o céu sempre emburrado e cinzento. Não havia um dia que fosse que as nuvens não cuspiam água do alto.

Depois de um ano inteiro de labuta constante chegou o tão sonhado dia do descanso.

Juventino fez as malas. Não sem antes pagar todas as contas antecipadas.

As férias haviam chegado. Como era do interior das Minas Gerais Juventino nunca havia visto o mar. A não ser em fotografias.

Passou por uma agência de viagens e comprou um pacote a preço modesto. Era uma viagem de mais ou menos oito horas até uma cidade praiana. Conhecida pelas águas geladas e o vento constante.

Cabo Frio seria sua meta naquele mês de dezembro que teve início. Ali passaria quinze dias sem nada a fazer a não ser desfrutar as tão sonhadas férias.

A viagem começou nada bem. O ônibus atrasou. E o pneu furou durante a viagem. Tiveram de fazer baldeação em outra condução. A viagem que seria prevista para durar oito horas terminou em doze.

Ao fim do dia, com o dia virando noite, enfim chegaram ao hotelzinho encomendado. Era em verdade uma pocilga. O quartinho, acanhado, mal cabia a cama com os pés quebrados. Não havia água no banheiro coletivo. Que ficava ao final de um corredorzinho apertado.

Juventino acordou sem ter dormido. E como choveu durante a noite. As goteiras despencaram sobre a cabeça do infeliz.

Naquela primeira manhã o café não foi lá estas coisas. Estava frio com um pão amanhecido.

Afinal era a primeira vez que o viajante de primeira viagem viu o mar. Mas nada de entrar na água. Chovia e ventava como nunca se viu antes.

Juventino voltou ao hotel. Ali passou o dia inteiro. Faltava água. E luz não havia.

O primeiro dia de praia foi passado naquele quartinho infecto e contagioso. Pernilongos rondavam-lhe a cabeça. Com aquele zum zum de tirar o sono.

Na hora do almoço Juventino foi ao restaurante perto. Pediu frutos do mar. Quando o prato veio foi aquele alvoroço. O camarão fedia a excremento. O peixe tinha os olhos esbugalhados. E as escamas não desgrudavam daquele peixe que nem carteira de identidade tinha.

Aquele dia primeiro foi um retumbante fiasco. Juventino foi dar uma voltinha na orla. Foi quando dois pivetes aliviaram-no da carteira. E daquela correntinha de ouro presente da avó.

Durante a semana inteira foi uma chuva só. Mal se via o azul do céu.

O pobre Juventino passou a semana inteira dentro do quarto. Sonhando com o mar.

Nos próximos dias a chuva iria continuar. Segundo a previsão da meteorologia.

Duas semanas se passaram. E nada de Juventino tomar o tal banho de mar.

A sexta-feira chegou. Era dia do retorno. As férias estavam no final. O trabalho o esperava.

Desta feita a viagem foi sem atropelos. O ônibus chegou à rodoviária na hora prevista.

Na segunda-feira começaria tudo de novo.

E as férias do pobre Tino? Elas foram por água abaixo.

Tomara que as minhas sejam diferentes. Para que eu não precise tirar férias das minhas férias. Enfim…

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