Hoje me dou por satisfeito

Ser feliz é um direito que assiste a todos nós. Embora a felicidade não acorde com a gente todos os dias.

Existem sim instantes fugazes de felicidade. Minutos apenas. Instantes, nada mais.

Conheço um amigo da roça que sempre se diz feliz.

Seu Antenor, do alto dos seus muitos anos, diz, com aquele sorriso mostrando os dentes banguelas, que sempre é feliz. Mesmo sujeitos as contrariedades da vida.

Um dia, quando passei por ele, sempre apressado, parei um cadiquinho junto dele, e a ele inquiri: “Antenor, por que o senhor está sempre sorrindo”?

Foi quando dele escutei a resposta: “quer saber? De que adianta ficar de mal com a vida se ela deve ser vivida plena de amor”?

Deixei o compadre Antenor assentado ao mesmo banco de pedra. Sorrindo, bulindo com uma borboleta, assentada ao seu ombro.

Antes não me dava por satisfeito com o que recebia da vida. Creio que mudei depois de certa idade.

As ambições antigas foram guardadas no passado. Passei a encarar a vida sob outro prisma.

Não mais estou submisso aos bens materiais. Contento-me com o pouco que a vida me presenteou.

Com a saúde que ainda tenho. Com a inspiração que me assalta todas as manhãs. Com a família com a qual fui presenteado. Tanto aquela de onde vim quanto a outra que ajudei a construir.

Satisfaço-me com a alegria dos meus netinhos queridos. Brinco com eles quando a ocasião permite.

Finjo que volto a mocidade quando junto deles. E faço de conta que meus setenta anos em verdade são menos de vinte.

Agora me dou por satisfeito com muito menos que preciso. A ambição dos tempos idos não faz parte do meu eu.

Sou feliz a minha maneira. Embora tenha momentos de infelicidade.

Alegro-me com o simples cantar dos pássaros. Contento-me em vê-los livres da gaiola.

Hoje me dou por satisfeito ao ver pessoas felizes. A felicidade de terceiros casa com a minha vontade de ser feliz.

A satisfação que me assiste nos tempos de agora é o resultado da vida que elegi para viver.

Não mais me apraz viver sempre angustiado com o que me reserva o dia seguinte. Simplesmente vivo sem pensar nas consequências de viver.

Apraz-me acordar a mesma hora costumeira. Sem pensar no que vai acontecer.

Aprendi, com o amigo Antenor, aquele que sempre sorri das adversidades, que os problemas existem. Mas devem ser contornados com a mesma alegria de sempre. Embora possam nos tirar o sono.

Hoje me dou por satisfeito. Não desejo mais nada. A não ser continuar a viver.

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