Nada consegui, a não ser o isolamento da minha solidão…

A calmaria imperava por aquelas plagas desertas.

Nada se via a não ser a planura do horizonte infinito.

Fazia frio. Céu azul, de uma azulice de doer os olhos.

Antonino Seriema vivia por ele mesmo. Isolado do resto do mundo. Perdido entre o nada e o vazio.

Era por opção própria. Desde cedo, quando tinha cerca de dezoito anos, Antonino, vivendo numa grande cidade, resolveu se mudar.

Desiludido com as pessoas. Desencantado com o mundo ao derredor, sem aparentados perto, apenas um primo distante restava de sua família, aquele moço ensimesmado decidiu mudar de vida.

Desocupou o pequeno apartamento onde morava. Ali dentro nada deixou além de desilusões amaras.

Aos dezessete anos interrompeu os estudos. Não por falta de aprender as matérias. E sim por não se sentir bem entre os de sua idade. Era tido pessoa não grata. Não se misturava com os demais.

Tentou se empregar numa padaria. Até que aprendeu o oficio. Mas, dado ao seu gênio difícil logo se viu no olho da rua. Passou tempos dormindo ao relento. Passou frio. Importunou- lhe a fome.

Aos menos de trinta decidiu, em comum acordão com ele mesmo, dar um giro completo em sua vidinha errante.

Um dia foi-lhe oferecido um encargo numa ilha distante. Seria o responsável pela conservação de um velho farol.

Seria ele, vivendo solitário naquela ilha deserta, quem iria iluminar as noites escuras, orientando as embarcações que por ali passavam.

Suas únicas companhias seriam as gaivotas. As aves migratórias que por ali passavam. Além de grandes peixes que nadavam ao derredor.

Antonino, de começo, estranhou aquele isolamento voluntário. De vez em quando uma embarcação fazia escala na pequena ilha. Trazendo-lhe os suprimentos.

O barqueiro era o único com quem proseara de tempos em tempos. Com o tempo aprendeu a conversar com os pelicanos. Que se tornaram amigos.

Um dia, era outono, quase ao seu final, por ali passei. Estava em viagem para outras plagas. O navio fez escala por uma tarde inteira naquele local isolado do resto do mundo.

Foi quando conheci Antonino Seriema. Era este seu apelido de batismo.

Ele se mostrou feliz ao meu aperto de mão. Ali morava a exatos dois anos inteiros. Aprendeu a pescar. A conversar com os peixes. Até mesmo a entender a razão da palavra felicidade. Era feliz naquela vidinha singela. Nada lhe faltava. Pessoas nada lhe representavam. Bichos sim… Eram a companhia ideal para seus momentos de solidão.

Passamos algumas horas a filosofar sobre a vida. Palreamos de tudo um pouco. Inclusive da solidão.

A nossa despedida, dele ouvi, e guardei junto a mim, a seguinte admoestação: “quer saber? Aqui me sinto a vontade. Nada me falta. Quando desejo escutar alguma coisa que me faz encantar ouço o murmúrio das ondas do mar. Quando desejo me afastar do mundo aqui estou. Olho para o horizonte longínquo, durante a noite admiro o brilho das estrelas, e, neste exato momento volto o pensamento a uma força superior. Bem sei que ela existe. Em algum lugar. Decerto aqui, neste isolamento, por certo há de ser mais fácil conversar com Deus”.

Parti com uma certeza. Antonino estava certo. Ali, naquela ilha deserta, entre peixes e gaivotas, ele reencontrou o que buscava há tempos. A tal felicidade. Que não se encontra em qualquer lugar. De quando em vez faz falta a solidão.

Deixe uma resposta