Não é de agora

Como o tempo passa frenético.

Ontem mesmo era quarta-feira. Hoje, quinta, quase mais uma semana finda.

E assim passarinham os anos. Parece que foi ontem que contava com vinteanos.

Olhando em direção ao relógio os ponteiros caminham sempre adiante. Não há como retroceder o murmúrio dos anos.

Ainda me lembro, quando me tornei um menino, recém-saído dos cueiros, e comecei a engatinhar, com que alegria ganhei aquela bicicletinha de rodinhas amarelas. Penso que foi no meu segundo aniversário. Ou seria no terceiro? Faz tantos anos que nem me lembro mais.

O que sei é que o tempo passa. E a gente acaba ultrapassando aquela idade em que estou no presente momento. Até quando estarei aqui contemplando o farfalhar do tempo? O que conta é a qualidade de vida que até hoje me bafeja.

Em dezembro, como ele se mostra perto, estarei um ano inteiro mais velho. Embora ainda não me considere idoso gozo de todas as prerrogativas que esta idade me faculta.

Ando de ônibus sem pagar. Pago meia entrada nos cinemas. Tenho um lugar especial para estacionar o carro. Apesar de poucas vezes usá-lo. Prefiro as pernas, apesar de caminhar usando máscaras não deixa de ser um atropelo.

Não é de agora que conquistei a sabedoria. Aprendi a identificar o certo do errado. Embora muitas vezes ainda me equivoque. E retrocedo pelo caminho certo. Pelo menos assim tenho acreditado.

Não é de hoje que acordo cedo. A noite pra mim perdeu o significado. Aproveito o clarume dos dias para aproveitar o que me resta de vida. Durante a noite não enxergo o tempo passar.

Tenho evitado ao máximo olhar os ponteiros dos relógios. Se pudesse, e meu desejo prevalecesse, aposentaria todos os relógios. E como eles trabalham duro. E não têm tempo de descansar.

Não é de agora que tenho resistido em me aposentar. Bem sei que um dia isso vai acontecer. Mas, o que vai ser de mim quando o ócio bater.

Não é de hoje que tenho evitado as enfermidades. Para isso me exercito. Procuro ter uma dieta saudável. Não faço extravagâncias alimentares. A saúde ainda me tem feito companhia. Nestes setenta anos que me contemplam.

Não é de hoje que tenho me interessado pela literatura. Escrever faz um bem danado para a vitalidade de nosso pensar.

Não tenho me acomodado. Faço com que a rotina mude sempre. Embora quase todo dia seja a cópia do anterior.

Netos são as nossas melhores companhias. Através deles me renovo. Com as suas brincadeiras, seus sorrisos brejeiros, penso que sou igualzinho a eles. Embora de idades tão díspares.

Não é de hoje que continuo a pensar no passado. A ele devo meu legado. Aos meus pais devo tudo. Inclusive o velho que me tornei.

Pensando na vida que tenho levado só tenho a agradecer. Primeiro aos genes herdados. E aqueles que transmiti.

A partir de hoje que sobrevenham mais anos. Sujeitos a desenganos e vitórias.

No entanto, se fosse recontar todos os anos que já passei, teria pouco tempo para agradecer. As graças que recebi de Deus.

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