Ontem à noite, por volta das oito, meu netinho mais novo fazia uma birra danada.
Era hora de dormir. Mas como brincava com ele o danadinho não queria ir pra cama. Persistia em ficar na sala, mesmo com olhinhos recheados de sono, brincando com um carrinho recém-recebido de presente.
Foi preciso colocá-lo de castigo. E ele, concordando comigo, prometeu não repetir a façanha. E foi de mansinho se deitar no leito, chupando aquela chupeta da qual não se desgruda.
Foi quando me lembrei de mim criança. Fazia as mesmas artimanhas para não ir à hora certa me deitar. Corria de um lado ao outro. Fazia beicinhos mostrando a minha insatisfação. Mas, o meu saudoso pai sempre me dizia: “Paulinho, vai dormir senão a Cuca vai te pegar”.
E eu em verdade acreditava na cara feia da tal Cuca. E sonhava com ela, com aquela carantonha feiosa. E acordava sempre com as calças ensopadas. Tempos depois parei de urinar na cama. E espero, que num futuro perto, não volte a urinar no leito. Já que a próstata já começa a me importunar.
E nada adianta fazer birra. Assim como de nada adianta nos indispormos com nossos pais. Logo o futuro nos ensina que eles estavam certos. Foi o que aprendi tempos depois.
Da mesma forma que de nada adianta nos revoltarmos contra a natureza. Um dia se mostra frio. Noutro logo esquenta. Um dia está escuro. Noutro a claridade se faz.
De nada adianta nos rebelarmos contra o estado de coisas. Ontem foi um dia triste. Já hoje a alegria me satisfaz.
Da mesma maneira que de nada adianta acordarmos com o pé esquerdo. É só trocarmos de pé que tudo vai melhorar.
Aprendi que de nada adianta nos indispormos com quem nos governa. Se fizermos a nossa parte o país inteiro vai sentir os efeitos da nossa mudança. Cada povo tem o governo que merece.
De nada adianta ficarmos de mal com a vida. Ela mal sabe o que se passa dentro de nós.
Ou de nada adianta remar contra a corrente. Mesmo sob um mar revolto, se esperarmos pacientemente, quem sabe chegaremos lá?
Aprendi, com os anos, que nem tudo são flores. Espinhos existem em nosso caminho para aprendermos a valorizar as flores. A sua beleza e perfume.
Da mesma forma aprendi, com o tempo passando, que de nada adianta nos rebelarmos com a situação vigente. Hoje nem tudo vai bem. Com certeza amanhã vai melhorar.
De nada adianta virar a cara aos desafetos. Amanhã eles podem virar amigos. Oxalá.
Aprendi que de nada adianta ficar de mal contigo. Que tal estreitarmos as mãos. E curtir um saboroso abraço?
Da mesma forma que de nada adianta perder a paz que tanto almejamos. Amanhã ela volta. A intranquilidade passa. Para podermos respirar melhor.
São tantos de nada adianta, que se ficasse aqui, enumerando todos eles, ficaria o resto do dia, o mês inteiro, falando apenas nisso.
Da mesma forma que continuar comentando apenas sobre a tal pandemia cansa. Que tal mudarmos de assunto?