Desde quando

Há tempos tenho pensado na vida.

Desde quanto tinha quatro aninhos completos, da mesma idade do meu netinho Theo.

Saudades daqueles anos.

Anos bons. Sonhos feitos, muitos desfeitos.

Naquela idade só pensava em brincadeiras. Amava o tempo de Papai Noel.

E acreditava piamente naquele bom velhinho. De barbas brancas, vindo de longe, num trenó puxado por renas aladas.

E ele entrava pela chaminé. Imaginava, dentro da minha descrença, como poderia um senhor, um tanto quanto obeso, escorregar por aquele caminho estreito, com um recheado saco às costas, sem se deixar entalar, entrando na sala bastante encardido pela fuligem, deixando debaixo da árvore de Natal embrulhos coloridos, cada um com um nome escrito, não cometendo senões.

E eu, meninozinho ainda, quase não dormia. Despertava ao cantar do galo. Antes que meus pais por ali passassem, e desembrulhava cada um deles, deixando os outros a quem de direito.

Desde quando me entendo por gente, deixando de ser criança, já entendendo que a vida não é feita apenas de presentes, passei a ser o Papai Noel dos meus filhos.

E quanto tempo passou. Os anos deixaram marcas. Envelheci.

Desde quando passei pela fase adulta, enveredei-me pela idade quase senil, confesso que não me sinto velho. Ainda sou capaz de fazer quase tudo que fazia dantes. Ou melhor, quase.

Sou ainda capaz de corridas longas. Meu tirocínio creio que melhorou. Minha capacidade de trabalho ainda se mostra igual. Acordo cedo. Ainda longe da aposentadoria penso alongar minha existência por muitos anos mais.

Desde quando aqui estou, neste dia lindo, nove de julho, tempos difíceis a todos, aprendi que o passar dos anos não importa, desde que estejamos preparados para enfrentar a velhice com a mesma disposição de meninos.

Ainda me sinto criança. Principalmente quando ao lado dos meus netinhos. Hoje eles viajaram. Ainda cedo me despedi deles. Quase não contive o choro.  E como eles me fazem falta. Através deles não vejo o tempo passar.

Sinto-me como naqueles verdes anos. Eu criança, ao lado da árvore de natal, desembrulhando presentes.

Desde quando me transformei em idoso não mais deixo a barba crescer. Caso assim o faça fico parecido ao Papai Noel. Pena que passei a desacreditar no bom velhinho. Ele, sou eu.

Desde quando aqui estou, já se passaram alguns minutos apenas, tenho tentado retroceder à infância.

Olhando o relógio das horas ele mostra oito e meia da manhã.

Já se passaram anos. Entre desenganos e ilusões perdidas.

No entando os momentos felizes sobrepujaram aqueles quando fui menos feliz. Espero continuar em minha caminhada pela vida da mesma forma que aqui cheguei.

Entre atropelos e sobressaltos. Entremeando alegria com instantes tristes.

Desde quando estou aqui, nesta vida mutante, continuarei a viver da mesma maneira que sempre sonhei.

Testemunhando o cotidiano. Com seus distintos matizes.

Vivendo desta maneira espero assistir dias irem e voltarem. Desde quando entendi que nem tudo na vida corre segundo nossa vontade.

Desde quando? Até a vida deixar de existir…

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