Aproxima-se o fim?

Final de mês, de ano, da vida.

Neste dia começo de agosto, frio, cinzento, pelo noticiário da televisão, bem cedo, ao acordar, assisti a um grave acidente, numa rodovia do estado do Paraná.

O céu mal se deixa ver. O sol, então, pobre coitado. Deve estar dormindo a esta hora cedo. Tiritando de frio. Neste inverno com temperaturas em descenso.

Foi no sábado passado, quando voltava da minha roça, antes das onze horas, passei por um sujeito, montado a cavalo, levando um saco enorme dependurado no arreio, decerto voltando a casa, depois de comprar suprimentos numa venda da cidade.

Era meu velho amigo. Por mim nomeado de Correinha. Há tempos não o via.

A cerca de um ano passado, talvez mais, ou menos, ele foi acometido de uma grave enfermidade. Permaneceu entre a vida a e morte por mais de dois meses. Restabeleceu-se por um milagre. Todos que o concheciam julgavam-no morto. Algumas vezes fui visitá-lo na Unidade de Tratamento Intensivo.

E quando retornava a minha roça levava notícias dele. Ia montado no meu cabalo baio, passando por fazendolas singelas, distribuindo cumprimentos àquela gente boa.

Ainda me lembro, se não me falham as lembranças, de quando apeei do meu cavalo, à porta de sua casa, e fui recebido por latidos nervosos por uma penca de cães. Felizmente, dizem por lá, que cão que ladra não morde enquanto ladra.

Depois de um cafezinho esperto, acompanhado de uma broa de milho, deixei a esposa mais feliz por ter recebido notícias boas.

Em verdade meu amigo Correinha se restabeleceu. Voltou a sua morada depois de tempos perdidos nas lembranças.

Naquele dia do nosso encontro, naquele sábado derradeiro, acabei parando a minha caminhonetinha à beira da estrada.

Fazia tempos que não trocávamos um dedo de prosa.

Conversamos sobre amenidades. Falamos de tudo um pouco.

Do seu restabelecimento. Da época em que estávamos vivendo. Da tal pandemia que se alastrava pelo mundo.

Depois de quase uma hora de prosa, despedi-me do amigo, não sem antes apertar-lhe a mão.

Correinha agradeceu-me as visitas quando estava no hospital.  Agradeceu-me inclusive a solicitude dos meus préstimos.

Antes de voltar à cidade, já era quase hora do almoço, ouvi, daqueles lábios ressequidos pelo frio, estas palavras que me fizeram pensar: “doutor, não é que se aproxima o fim do mundo”?

Será que Correinha tinha razão? Naquele dia de sábado o céu de repente azulou-se de vez. O sol voltou a brilhar. Nuvens cinzentas se desfizeram. E tudo voltou ao que era dantes.

Um dia em verdade o mundo vai terminar. Mas não há de ser desta vez. Espero que eu não esteja aqui para comprovar.

Quem sabe quando? Até no momento presente ninguém seria capaz de vaticinar.

Deixe uma resposta