Hoje o sol voltou a brilhar

Ontem estava um dia cinzento. Hoje acordei com o sol desperto.

A vida é assim. Hoje faz sol. Tudo parece remar contra nós.

Já, no dia seguinte, a situação se inverte.

Um novo dia recomeça. Com ele a esperança de dias melhores. Mesmo nas piores ocasiões, quando a aflição predomina, a angústia nos faz pensar na morte. Como a única solução nestes tempos difíceis por que estamos atravessando.

Assim era a vida do meu compadre Zé Agonia.

Era um sujeito bom. Sem defeitos.

Agarrado no cabo da enxada ele acordava ao cantar do galo. Morava só. Por opção própria não constituiu família.

Aprendeu a cuidar de si mesmo desde quando perdeu os pais. Ainda na tenra idade.

Aos quinze anos já dava conta de cuidar de uma propriedade herdada da família. Era ele e ele só.

E dispensava opiniões contrárias.

Era tido nas vizinhanças, assim que ganhou idade, como um trabalhador compulsivo.

Ordenhava umas duas dezenas de vacas baldeiras. Delas tirava o sustento. Era feliz e bem o sabia.

A renda do leite era pouca. O que o fazia alegrar eram os negocinhos com aqueles que o conheciam. Para ela palavra dada era mais do que o suficiente. Era de uma honestidade a toda prova.

Naquele inverno friorento as coisas iam de mal a pior. Fazia frio. A seca imperava por aquelas plagas.

A roça de milho não cresceu a contento. O preço do leite despencou.

A pastaria ressequida fazia encher os olhos de agonia. Tudo parecia remar contra os desidérios do bom Zé Agonia.

Foi num final de semana que passei por ali. Zé era meu vizinho de pasto.

Procurei-o por todas as partes. Quando estava quase desistindo dei com o Zé enfiado numa moita de capim.

Ele estava todo sujo. Fazia horas que Zé, tentava, sem sucesso, retirar dali a comida a dar as vacas. A tal moita era de espinho puro. Daqueles pontudos a furar os dedos mesmo enluvados.

Esperei pacienciosamente que ele terminasse a tarefa. Foi quando ele me convidou para um cafezinho feito de véspera.

Descemos ambos até a sua casinha modesta. Ele na frente. Eu ruminando atrás.

Assim que adentramos na sua cozinha, ainda quente pelas achas de lenha ainda crepitantes, ele me confidenciou das suas mazelas.

“Quer saber? Ontem tudo parecia ir mal. O frio fustigava a minha pele. A roça de milho não vingou. A pastaria ressequida me fez pensar em sumir daqui. O preço do leite não estava coisa que prestasse. Quase desisti desta vida ingrata. Pensei até em me mudar pra cidade. Já hoje o sol votou a brilhar. Tenho esperança que tudo vai melhorar”.

E não é que melhorou? Sem esperança, sem sonhos não se vive. Por este motivo não desisto. E aqui estou confiante que esta calamidade não vai durar para sempre.

 

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