Assim o dia recomeça

“Bendita segunda-feira”!

E tem gente que amaldiçoa.

Sol a encher o céu de amarelo. Nenhuminha nuvem no alto.

Foi neste cenário lindo que amanheceu o dia.

Nem todas as segundas se assegundam. Muitos desdenham o inicio de semana.

Ficar na cama, num dia como este, parece um desvario.

Quente, mais parece o verão. Chuva nem sinal de seus pingos. E como carece de chuva os ares do campo. Tudo fede a poeira, falta o barro para fazer a alegria de quem se acostuma a desatolar as vacas. Queimadas se permitem ver no horizonte azul. Labaredas, uma cortina de fumaça se vê ao longe. Nada que indique a presença de chuva se nota naquela manhã de segunda.

Foi neste dia abençoado, por aquele rapazola trabalhador, quando despertou um moço vizinho de pasto.

Ele, como toda a família, composta de gente da roça, via de sempre acordava sorrindo. Pra ele tanto faz, como tanto fazia, a cada segunda a vida corria sempre igual.

Pedro era uma pessoinha feliz. Não importava se era segunda-feira, ou caísse num domingo, não havia diferença. Todos os dias eram sempre dedicados ao trabalho duro. As tarefas se repetiam diuturnamente.

Pedro contava, naquele inverno com cara de verão, com apenas dezenove anos. Completos na semana passada.

Era feliz com o pouco que possuía. No velho armário, carcomido pelos cupins, se amontoavam meia dúzia de roupas. Um velho par de botinas descansava a um canto. Dinheiro no banco apenas em pensamentos.

A ele bastava uma dúzia de vacas baldeiras. Eram delas que retirava o sustento.

Acordava ao cantar do galo. Colhia os ovos escondidos num pé de bananeira. E depois de tratar das galinhas, com o milho recém-colhido na roça, passava a ordenhar as vacas. Fazia queijo com as sobras. E o restante vendia ao lacticínio.

Até aquela idade não tinha namorada. Era tão dedicado ao trabalho que não lhe sobrava tempo. Casar, com que roupa?

Não seria qualquer rapariga que se encantasse com um pobretão como ele. E mulher na roça era fruta rara. As poucas que haviam se debandavam pra cidade. Tentando se consorciar a algum moço de posses.

O moço Pedro até que não era desprovido de formosura. Olhos azuis como o céu de hoje cedo. Alto o bastante para colher jabuticaba sem precisar subir no pé. Forte o suficiente para deitar um boi no laço. E de outras qualidades que nem eram enumeradas. E bastante conhecidas por todos que com ele conviviam.

Naquela manhã de segunda, ao acordar ao cantar do galo, Pedro havia sonhado que havia ganho na loteria. Enricou de vez. Foi uma bolada de encher a vista.

Com aquela soma enorme comprou uma fazenda. Com mais de mil cabeças de gado. Cada boi de fazer a balança do açougue quase se quebrar ao seu peso morto.

Já acordado, naquela manhã de segunda-feira, percebeu que tudo não passou de um sonho. A meia dúzia de vacas já mugiam famintas à porteira do curral. As galinhas cacarejavam no terreiro. Canarinhos da terra ciscavam o esterco do curral. Maritacas gritavam ensandecidas a chegada das jabuticabas maduras.

Naquele recomeço de semana Pedro continuava na sua rotina. Para muitos enfadonha. Para Pedro era mais um dia feliz. E ele era feliz e bem o sabia. Mudar, pra quê?

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