Perdeu a graça

A gente cresce, envelhece, deixa de ser criança, mudam os anos, com eles vêm os desenganos.

O que era engraçado deixa de ser motivo de sorrisos. As lágrimas aparecem nos canto dos olhos.

Aquele andar gracioso, da criança em seus primeiros passos, atropelando o canto da mesa, deixa pra trás apetitosas lembranças. Ah!, quem me dera! Voltar à primeira infância.

Longe se foram os anos. No próximo dia sete, do mês que amanhã tem começo, completo mais um ano de vida. Já ultrapassei os setenta. Não tenho do que me queixar. Foram anos bons, outros, nem tanto.

Este que quase termina talvez seja um dos piores que tenho vivido.

Acontecimentos funestos marcaram este ano de dois mil e vinte. Não preciso relembrar quantos e quais foram eles. Foram tantos que perdi a conta.

O mundo inteiro quase só tem motivos para se lastimar. Estamos vivendo a tal pandemia. Que a cada dia faz vitimas. Jovens, seniores, crianças, perderam a vida. Leitos de hospitais ainda se mostram lotados de pacientes com dificuldades de respirar.

Desde a última quinta-feira estive ausente da minha querida Lavras. Precisava respirar novos ares. Não que aqui eles me faltam. Pena que as minhas Gerais não tem mar.

Fomos, em família, visitar a Bahia. Já conhecia a linda Salvador.

Gostaria de conhecer uma localidade próxima a capital daquele estado. Assim o fizemos.

Dois de meus netinhos foram juntos. Faltou o querido Gael.

Bem perto de Salvador, depois de uma viagem tranquila, aportamos num resort paradisíaco. Seu nome, pomposo, é Iberostar.

Ao ali chegar encontramos todos usando máscaras. Com cuidados redobrados para evitar a tal pandemia. Álcool em gel estava por todas as partes. Hóspedes evitavam um contato mais íntimo.  Todos se olhavam desconfiados. Parecia que tinham receio de se contaminarem.

O cenário me intimidava. Que saudades dos idos anos. Quando a gente não tinha medo de nada. Nas piscinas a água tépida nos convidava a um banho. Pena que o distanciamentos das famílias me fazia pensar no tempo que costumava ir à praia. Sem o temor de agora. Sem as tais máscaras que nos encobrem a identidade.

Neste ano em curso muita coisa perdeu a graça. Faltam-nos tantas coisas. A alegria dos tempos de outrora. O sorriso e o doce alarido das crianças. O banho de mar sem os cuidados de agora.

Confesso que quase tudo perdeu a graça.

Ainda bem que o ano quase termina. Que venha dois mil e vinte e um com mais alegria.

Que a tal pandemia termine logo. Que a graça dos verdes anos retorne. Que as máscaras apenas sejam usadas no carnaval.

Senti, durante a nossa curta viagem, a procura de novos ares, naquele resort próximo a Salvador, certo desalento.

Senti, nestes dias longe de aqui, como faz falta podermos caminhar livres e soltos, sem as inoportunas máscaras. Sem o receio de nos contaminarmos. Evitando abraços. E qualquer manifestação de apreço.

A vida continua linda como era dantes. Que volte logo a graciosidade de um sorriso de criança.

Nestes tempos complicados, poder-se-ia dizer tristes, quase tudo perdeu a graça.

Que ela retorne bem rápido. Sentimos muito a sua falta.

 

 

 

 

 

 

 

 

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