Hoje acordei a hora de costume.
Bem antes das sete já me pus de pé.
Dormi o sono dos justos. Afinal, na minha idade, prestes a completar setenta e um, em absoluto não sinto o tempo passar.
Ontem acordei com a mesma disposição de hoje. A mesma hora. Repeti a rotina costumeira.
Depois de mais velho durmo pouco. Acredito que seja na intenção de aproveitar o fiapo de tempo que me resta.
Considero a noite um desperdício de tempo. Pra que ficar oito horas inteiras num sono profundo? Se não podemos ver o clarume do sol. A azulice do céu. Ou até mesmo a chuva cair de mansinho. Enverdejando a pastaria. Ou escutando os canarinhos cantarem?
Bem sei que amanhã será outro dia. O que me reserva o amanhã? Será que irei chegar até lá?
Não importa. Amo viver as incógnitas. Se pudesse prever o que me reserva o futuro a vida não teria sentido. Prefiro viver o presente. Considero o presente um legado dos céus.
Nesta vida que tenho levado minhas memórias sempre me levam ao passado. Não me esqueço jamais do quanto foram bons os meus pais. Foram eles que me deram tudo. Não apenas a vida. Entre seus legados considero a dignidade, a clarividência, a alegria dos tempos de criança.
O que me reserva o amanhã ninguém sabe. Seria um dia como este? Céu ainda fechado. Um sol tímido recém-acordado? Vai chover no dia de amanhã? Durante o dia? Ou no tardar da noite?
Só desejo saber o que me interessa. A saúde vai me acompanhar sempre? Meus netinhos terão motivos para celebrar o futuro? O mundo inteiro vai se livrar da tal pandemia? Quando? Interrogo-me, sem saber a resposta.
Quem saberia dizer quando estarei pronto a me despedir deste mundo tão lindo? Seria num dia como este? Quente e ao mesmo tempo úmido?
O que me reserva o futuro prefiro perguntar as estrelas. Por saber que elas não irão responder fica esta pergunta no ar.
Quase sempre me indago. Por que dos porqueres?
São tantos as indefinições que me cercam que prefiro buscar numa enciclopédia as respostas. Apesar de saber que nem sempre as obtenho. O melhor da vida que tenho levado é não saber quase nada do tudo. São tantas as indefinições que prefiro ficar na ignorância. A vida é um eterno aprendizado. Quando pensamos saber quase tudo neste mesmo instante nos deparamos com mais uma pergunta sem resposta.
Aí que reside a beleza da vida. Viver em eterna harmonia com tudo que nos rodeia. Deixando de lado o que nos incomoda. E seguir adiante sem nos preocuparmos com nada. A não ser com a tal felicidade. Nem sei se ela existe.
Quem sabe o que nos reserva o amanhã? Só sei que nada sei. E prefiro continuar assim.
Amanhã vai ser um novo dia. Depois de amanhã uma semana nova nos espera. Ao final do mês um ano novo se anuncia.
Acredito que ele vai ser melhor.
Depois de mais velho compreendi muitas coisas. Pra que nos preocuparmos tanto? Deixa o amanhã pra depois…
