Ah!, como gostaria…

Já tive gostos e preferências.

Em menino preferia brincar na rua. Entre bolinhas de gude, finca, jogar bete, e jogar futebol.

Uma vez deixando de ser criança as preferências mudaram.

Deixei de lado as bolinhas de gude, enterrei o finca debaixo de um pé de jabuticaba, mudei de esporte. Aprendi a jogar tênis com meu pai.

A partir de então passei a desdenhar do futebol. Meus ídolos mudaram. Os atletas das raquetes passaram a ser os da minha predileção.

Quando morava em Belo Horizonte, em busca de minha formação profissional, ainda torcia pelo Cruzeiro. Bons tempos de Tostão, Dirceu Lopes, Natal, e aquele goleiro de camisa amarela, ao qual a torcida adversária chamava de Wanderleia.

Tempos depois, já vivendo noutra cidade, aquela a qual amo de montão, graças ao comportamento briguento das torcidas, ditas organizadas, que não passam de um grupo de arruaceiros, passei a olhar o futebol com olhos de puro desdém.

Foi aí que não mais joguei futebol. De vez em quando assisto a outros jogos em outras paragens. Ontem mesmo assisti à vitória de um time francês. E passei a olhar com bons olhos outro atleta. Que quando não cai em campo faz maravilhas com a bola nos pés.

Hoje, prestes a colher idade nova, embora seja um velho não assumido, me sinto um menino jogando finca, praticando bete, com aquelas bolinhas de tênis gastas pelas pancadas por mim desferidas.

De vez em quando me vejo naquela rua que daqui se avista. Naquela velha casa. Hoje de portas fechadas. Posta a venda. Defronte ao hospital onde ensaiei meus primeiros passos na vida de médico.

Ah! se pudesse, fazer meu passado redivivo, como gostaria de voltar aos verdes anos da minha juventude perdida.

Voltar ao rela do jardim. Elas pra lá. Eu no sentido contrário.

Poder recomeçar tudo de novo. Sem incorrer nos erros do passado.

Como gostaria de reviver anos perdidos. Ir de volta à Boa Esperança. Na doce esperança de ter meus pais de volta.

E como apreciaria poder abraçar velhos amigos. Muitos não mais estão aqui. Avoaram ao céu dos anjos.

Da mesma maneira como gostaria de passar as férias de final de ano naquela fazenda. E como meu tio Zito faz falta.

Sinto ainda falta das minhas tias avós. Tia Mariana, Leonor, o velho tio Júlio, que me ensinou a amar as vacas, agora moram em outra fazenda. Acredito que naquele lugar encantado moram bichos mansos. E pastejam livremente pela imensidão do céu.

E como gostaria ainda, nesta data que antecede as festas natalinas, de me tornar o verdadeiro Papai Noel.

Sair em viagem de um lugar frio. Num trenó puxado por renas aladas. Descendo pelas chaminés desligadas. A distribuir presentes as crianças mundo afora.

Gostaria de tantas coisas. Incontáveis delas.

Pena que a cartinha escrita ao bom velhinho não tenha chegado a tempo.

Nela estaria escrito, em letras iluminadas: ah!, como gostaria de não sonhar tanto…

 

 

 

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