Ah! Se eu soubesse…

Como gostaria de prever fatos e acontecimentos.

Assim como quando iria chover. Quando a gente deixaria de viver.

Quando, aquela pessoa, que fazia parte de nossa vida, desde quando ela começa, a qual amamos tanto, despedir-se-ia de nós, enlutando o nosso porvir.

Ah!, se eu pudesse premeditar. Quando iriamos deixar de amar. Como se o amor fosse algo do qual pudéssemos abrir mão. No momento em que desejássemos. E ele nos deixa quando menos se espera. Como um navio deixa o porto em direção ao mar.

Ah!, como gostaria de viver sem medo de ser feliz. Sem o receio de um dia estarmos à mercê de enfermidades consumptivas. Que em pouco tempo nos levariam ao outro lado da vida. E como me aprazeria conhecer o que se mostra do outro lado. Se um lado obscuro ou de um clarume excessivo.

Como ficaria feliz em voltar ao passado. Nem que por um instante apenas. E dar aquele abraço apertado. Que um dia soneguei aos meus queridos pais.

Como me sentiria feliz. Na mesma intensidade de quando meu primeiro neto nasceu. Como quando meu primeiro filho veio ao mundo. Naquele momento mágico. Faz tantos anos que quase não recordo mais.

Ah!, se me fosse permitido viver, sem o temor de ficar velho, já que não me sinto velho, um ano talvez seja fosse contemplado com a mesma felicidade que sinto agora, nesta sexta-feira tão linda, começo de um ano novo. que ao final de dezembro se despede novamente.

E como me faria feliz, caso soubesse até quando esta inspiração insana me toma por inteiro. E a cada manhã mais um texto nasce de minha imaginação fértil.

Ah!, se eu pudesse antever, quando outra manhã vai nascer, se no dia seguinte, ou noutro dia qualquer. Infelizmente não sou dono do tempo. Muito menos consigo prognosticar qual doença irá me levar.

E como será outra vida? Se ela que ela existe. Seria ela colorida? Ou apenas cinzenta.

Ah!, se me fosse permitido abraçar tanta gente.  Sair distribuindo bons dias a esmo. Se me tomarem por louco. E daí? Bem sei que o limite entre a sanidade e a louquice é tão tênue quando um fio de linha. Que mal consegue passar no buraco da agulha.

E como gostaria de viver conforme meus desiderios. Fazer o que me apraz. Aposentar-me sem deixar o trabalho de lado. Já que considero o ócio o começo do fim.

Apraz-me-iam tantas coisas. Tentar tolher o burburinho do vento. Apagar ressentimentos. Viver outra vida além desta. Poder assistir a formatura dos meus netinhos. Distribuir carinho aqueles que necessitam. Amar e ser correspondido. Saber diferenciar entre o certo e o errado. Não incorrer no mesmo logro.

São tantas coisas que desejaria. Tantos fatos que gostaria de apagar das minhas lembranças.

Se dissesse que apreciaria não estar aqui, neste sétimo andar, do meu consultório, com certeza estaria mentindo. Todos os dias faço sempre igual. E não pretendo mudar.

Até quando a vida me for levando. Para outras paragens. Além da azulice do céu. Por cima das nuvens. Para um lugar desconhecido. Ao lado de entes queridos. Se é que existe vida depois desta passagem aqui na terra. Tão efêmera quanto o vento que passa. Quanto a chuva que ontem caiu. Deixando poças d’água no seu caminho.

Ah!, se eu pudesse tantas coisas. Pena que já vivi mais da metade do tempo que me resta. E não sei vaticinar quanto tempo mais tenho a viver.

E, se eu soubesse, não iria dizer a vocês…

 

 

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