“Deus, dê-me forças”

A vida não estava sendo fácil para aquele amigo da roça.

A chuva veio em intensidade máxima.

Chovia durante a noite. Repetia-se a chuvarada no decorrer do dia.

Zé Antônio quase não podia sair de casa. Não que quisesse. Mas o tempo não permitia.

A chuva era tanta que quase tudo se mostrava alagado. Uma enchente de grandes proporções desceu do morro naquela manhã de quarta-feira.

Quase a casinha onde Zé morava foi levada de roldão pela força das águas. Ficou pelo quase.

A plantação de milho não foi adiante. Mais parecia um pântano alagadiço. Como acontece na plantação de arroz.

Zé, desatinado, orava aos céus para que parasse de chover. No entanto nuvens densas indicavam o revés.

Naquela manhã de quarta-feira ali estive. Estava de passagem. Minha casa beira lago não estava pronta ainda. Faltavam pequenos detalhes. Há dias os pedreiros não davam o ar da graça. A chuva não permitia.

Foi com grandes dificuldades que consegui chegar ao meu palmo de chão. A estrada estava intransitável. Uma lama grudenta fazia atolar as rodas da caminhonetinha prateada. Quase rodei numa curva em declive.

Ao ali chegar, era por volta das onze horas, deparei-me como uma cena que me fez coçar até as orelhas.

Zé Antônio, meu vizinho de cerca, tentava subir o morro que levava a sua rocinha de milho. A carroça, puxada por um cavalo eunuco, de nome Marreta, saracoteava em ziguezague pelo barro grudento. Foi preciso upa para retirá-lo daquele lamaçal viscoso.

Zé agradeceu-me com olhos lacrimejantes. Paramos um junto ao outro. Não era a primeira vez que isso acontecia. Éramos bons amigos. Velhos conhecidos.

Naquela tarde chuvosa trocamos dois dedos de prosa. Falamos do tempo. Das intempéries da vida. A tal pandemia não ficou para trás.

Antes de nos despedirmos, já era tarde, por volta das cinco horas, se tanto, ouvi da boca do amigo Zé esta confidência, que me fez pensar na vida.

Estamos passando por tempos inoportunos. A crise se alastra como fogo em relva seca. As mortes se sucedem em todas as partes. O país perdeu o prumo. Gente sofrida se mostra em cada esquina.

Neste exato instante, quando me preparava para subir o morro, ouvi do amigo Zé esta expressão de pura fé: “Deus me dê forças para continuar. Quase estou desistindo. Os obstáculos são tantos que não mais consigo atravessá-los”.

Mais tarde, já na cidade, a chuva parou. O céu azulou de vez. Que dia lindo se mostrou no dia seguinte. Imagino a cara do amigo Zé. Graças a sua fé tudo acabou dando certo. A planta de milho reagiu. Deu cada espiga linda. O preço do leite subiu. A pastaria verdejou.

Mais uma vez aprendi. O que meus pais sempre me ensinaram. A fé remove montanhas. E depois da chuva vem a bonança.

 

 

 

 

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