Finalmente

Segundo diz o pai dos burros finalmente enseja: afinal, que busca colocar um fim, finalmente chegou ao destino certo.

Quantas e incontáveis vezes usei esta palavra, num momento de desespero, quando consegui, depois de várias tentativas vãs, chegar ao meu objetivo, qual sejam, vários, por exemplo, galgar mais um degrau na vida, chegar aonde queria, lograr êxito depois de várias tentativas, conquistar mais um objetivo, embora sejam muitos, até chegar aonde estou, semi-aposentado, ainda capaz de desempenhar como dantes a minha vocação, feliz da vida com esta sensação maravilhosa de acordar ao nascer do sol, neste dia iluminado, fresco, ensolarado, embora a meteorologia preveja chuva no decorrer da semana, que de pouco se inicia, finalmente, para não me alongar tanto neste parágrafo, que parece interminável, como deveria ser a existência, puras conjecturas, finalmente parece que chegamos aos finalmentes, de um período que coloca em bancarrota todos os setores do povo brasileiro, esse tal de lockdown, melhor seria fechar as porteiras, como se fosse possível ficar em casa, a espera de tempos melhores, pois melhor seria se o dinheiro caísse do céu, no entanto, para conquistá-lo, mister se faz muito trabalho e dedicação.

Acredito, dentro das minha convicções mais impuras, nada me convence que a tal pandemia, como assegura o nosso presidente, muito contestado, a melhor conduta seja permanecer em isolamento, evitando o contato fraternal com nossos semelhantes, e permanecermos confinados como bois de engorda, a espera do abate.

Fechar as portas, evitar sair às ruas, em verdade faz da gente meros espectadores de um país empobrecido, cada vez mais endividado, onde a miséria cada vez mais se alastra, onde a fome grassa que nem erva daninha, num jardim descuidado.

Finalmente parece que nossos dirigentes criaram juízo. Resolveram por bem reabrir as portas. Permitir que o comércio volte à ativa. Finalmente, revejo a luz ao fim do túnel. Uma luzinha ainda tênue. Gostaria que ela fosse mais iluminada.

Finalmente decidiram pelo fim do lockdown. Sábia decisão.

Que bom ver as ruas apinhadas de gente. Mesmo que em uso de máscaras. Evitando aglomerações.

Que bom que finalmente deixaram de policiar as pessoas. Elas são donas de seus narizes. Mesmo que aduncos e desprovidos de formosura.

Finalmente, em boa hora, optaram por abrirem-se as portas. Ninguém merece ficar confinado. E, se o mundo terminasse de agora a um minuto? Seria muita incoerência ficar em casa. Como um caramujo que carrega a própria casa às costas.

De minha parte nunca me porão freios. Não tenho parança. Sou com um cavalo inteiro. Dispenso bridão. E, se andar na contramão, que me multem se quiserem. Não tenho o rabo preso com ninguém. Jamais adentrarei pela politica. Prefiro trilhas mais seguras pela literatura.

Finalmente podemos voltar à vida normal. Cada um deve fazer o que melhor lhe apraz. Se preferirem se expor a tal virose, deve-se assumir o risco.

Finalmente, neste dia maravilhoso, outono lindo, a cidade retorna aos seus dias. Por que não reabrir as academias. Os salões de beleza. As praças e os jardins.

Finalmente ouvi, ou penso ter ouvido, o murmúrio silencioso de uma flor. E ela me disse: finalmente voltei a sorrir. Olhei pra ela, e, finalmente, novamente voltei aos meus melhores dias. Pensei ter assistido ao final desta pandemia. Que tem feito tanto mal a todos nós. Finalmente, tenho sim previsto quando novamente poderemos sair às ruas sem temor algum. Pressinto em verdade o começo do fim.

 

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