Não faz tanto tempo assim

Como o tempo passa depressa…

Ontem parece coisa do passado.

Já não tenho mais vinte anos. A infância já me deixou há anos.

Ontem foi dia oito de junho. Dia sete foi aniversário de minha mãe. Amanhã vai ser outro dia. Que ele chegue em harmonia, em paz, com saúde, é o que desejo a todos vocês.

Não faz tanto tempo assim que morava naquela casa. Que me olha aqui pertinho de onde estou. Agora ela está vazia. Janelas fechadas, portas trancadas, quartos e salas a espera de outros moradores.

Ainda me lembro daqueles anos. Perdidos no meu passado. Naquela rua, de tantas lembranças eternizadas dentro de mim, aprendi que ter amigos é fundamental ao nosso crescimento. Muitos já se foram. Viraram anjos, e hoje moram no céu.

Ai que saudades dos meninos da Costa Pereira. Com eles passei a infância de parte da juventude. Somente anos mais tarde deles me desvencilhei.

Ainda hoje, quando ando pelas ruas da minha cidade, de vez em quando ouço alguém falando meu nome. Quase não reconheço aquela pessoa. Pois o tempo muda a nossa fisionomia. Pena que a verdade deve ser dita: a velhice nos transforma. Perdemos o viço da juventude. A pele fica enrugada. A fala muda com o passar dos anos. As pernas acabam claudicando. E, quando menos se espera partimos para um lugar desconhecido. Pra onde foram meus pais.

Não faz tanto tempo assim que brincava de pique- esconde. E caminhava no rela do jardim. Foi lá que conheci minha primeira namorada. Onde ela anda? Por certo, como eu, já se tornou avó.

Não faz tanto tempo assim que aprendi as primeiras letras. O nome da minha professora, que Deus a tenha, era dona Beliza. Que doçura de gente. Que voz doce ela possuía.

Não faz tanto tempo assim que nadava naquele mesmo clube. Quando saltava daquele trampolim. Agora a mesma piscina passa por reformas. Pena que não possa transformar minha velhice, retroceder nos anos, e voltar àquela mesma rua onde cresci.

Não faz tanto tempo assim que da minha cidade parti. Fui em busca da minha formação profissional. Naquela Belo Horizonte tão mudada. Morava perto do Parque Municipal.

Não faz tanto tempo assim que para aqui retornei. Depois de uma estada nas terras de Espanha. Não conheci as touradas de Madri.

Parece que foi ontem que pela primeira vez empunhei o bisturi. Minhas mãos tremiam. Mas logo me acostumei.

Não faz tanto tempo assim que me casei. Hoje três netinhos lindos fazem a minha alegria. Com eles volto à infância. Faço de conta que voltei a ser menino.

Parece que foi ontem. Volto no tempo, mas não consigo retroceder nos anos. Hoje ultrapassei os setenta. Amanhã, depois de depois de outro amanhã, felizmente desconheço quantos anos mais viverei.

Não faz tanto tempo assim que morava naquela mesma rua. Naquela casa, paredes tintas de saudade.

Parece que o tempo não passa. Mas ele passarinha. Independente de nossa vontade.

Não faz tanto tempo assim que comecei este texto. Agora são sete e vinte minutos. Logo chega as oito. E tenho de atender a quem me espera. Na antessala de onde escrevo. Nesta manhã linda de outono.

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