“Num precisa”

Isso de carecer ou precisar tem incomodado muita gente.

Principalmente na roça.

Tenho um compadre, de cuja filha fui padrinho de casamento, de nome Bento, que, sempre, ao acordar, abre a janela, olha pro lado de fora, vê se vai chover, por vezes se engana, o céu está claro de uma azulice profunda, mesmo assim liga a televisão, e assiste aquilo que diz a meteorologia, e, contrariando os seus indícios, de novo olha pro alto, e conversa com aquela nuvenzinha cinzenta, que acaba lhe dizendo para sair de casa levando o guarda-chuva.

Pedro Bento, não sei bem se este é o seu verdadeiro nome, pois ele nunca foi batizado, sempre que passo por ali me pergunta se é preciso.

Um dia, nesta pandemia que parece nunca ter fim, tudo indica que seu começo foi na China, quando passei pela roça do amigo Bento ele estava diferente.

Envergando a sua melhor fatiota, aquele terninho que usou no casamento, olha que fazem tantos anos que nem me lembro, se preparava para ir à cidade.

Tomamos café juntos. Era ainda bem cedo.

Mais ou menos meia hora se passou. Bento iria pegar carona no caminhão leiteiro. Lá fora chovia manso. O céu se mostrava cinzento.

Meu amigo Bento, sabedor que sou urologista, aquele médico especialista em doenças do aparelho urinário e genital, não confundam hemorroida com a próstata escondida pertinho daquele lugar, gostaria de saber uns não sei quantos é preciso.

Primeiro ele me perguntou se carece de estar de quatro para fazer o tal toque sem retoque. Se o tal exame tem perigo de se acostumar com ele. Se dói ou não passa de boato.

Depois de alertá-lo das conformidades para se fazer o tal exame, de tentar tranquilizá-lo pois ele não dura mais que um minuto, que não causa dependência ou que vicia, basta para isso relaxar, respirar fundo, e imaginar que lá fora caiu uma chuvinha mansa, depois de terminar o tal exame, esperar sossegadamente na outra sala, o veredicto do médico especialista, e se vai ser preciso outros exames complementares.

Bento, ainda preocupado, detalhista que sempre foi, antes de partir rumo à cidade, depois da primeira ordenha da manhã, ainda gostaria de dirimir uma derradeira dúvida.

“Doutor, é preciso jejum”?

Nunca me perguntaram isso. De fato não é necessário.

No entanto deve-se evitar um lauto jantar de véspera. Imagine se o intestino estiver cheio de fezes. E o paciente estiver com diarreia.

Daí a minha recomendação de ficar em jejum. No máximo um cafezinho magro. Fazer uma boa higienização da região anal. E não sonhar com o tamanho do dedo do profissional.

Carece ficar em jejum? Se não for possível melhor sim…

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