A capadura do Zé Mané

Não confundam castração com vasectomia.

Na primeira operação removem-se os dois testículos. Conhecidos por tentos, na linguagem da roça. Já a segunda, simples procedimento, realizado na clínica do urologista, não demora mais que dez minutos.

Trata-se, no caso primeiro, de uma cirurgia de mais alto risco. Indicada quando se tem uma inflamação irrecuperável do órgão reprodutor, que requer a pronta retirada de ambos os testículos. Ou, noutra ocasião, quando o paciente é portador de câncer de próstata, na intenção de suprimir a produção de testosterona, da mesma maneira se indica a ablação total dos órgãos reprodutores.

Já a vasectomia deve ter a aceitação de ambos os consortes. É assinada no ato uma declaração de consentimento autorizado previamente. E, só depois de um mês inteiro deve se comprovar a infertilidade. Fazendo-se o exame do liquido seminal. Que deve constatar a ausência de espermatozoides ou a morte de sua totalidade.

De vez em quando me indagam: “a vasectomia pode ser revertida”? Respondo que sim. É um procedimento muito mais complexo. E requer anestesia e internação no hospital.

Um dia destes, pelo telefone, uma vozinha gostaria de falar com o doutor. Minha secretária perguntou se eu poderia atender naquela hora.

Respondi prontamente que sim. A velha senhora, preocupada com a fecundidade de seu neto, jovem ainda, naquele momento chegou a cinco filhos com cinco mulheres distintas. E não podia arcar com nenhures. Estava desempregado. Dependia da avó não apenas para morar como para se sustentar.

Do outro lado da linha tentei dirimir as dúvidas sobre a tal operação. Expliquei que bastava que seu neto marcasse o dia e a hora. E raspasse a região genital, bolsa escrotal e adjacências.

Eis que chegou o dia da cirurgia. Zé Mané chegou desacompanhado. Coçando a cabeça de preocupação.

Ele ainda não estava convencido de certos detalhes. Se ficaria broxa depois. E quanto tempo precisaria guardar quarentena. Uma das namoradinhas esperava na antessala. Só que não mostrou a carinha desconfiada.

Expliquei-lhe em detalhes o procedimento. Que não era castração e sim uma ligadura dos canais deferentes. Um de cada lado. Já que não era roncolho. Em pouco mais de trinta dias precisava voltar ao consultório. Trazendo em mãos o exame comprovatório da infertilidade definitiva.

Zé Mané fechou os olhos na hora da operação. Persignou-se e se benzeu ao santo protetor dos aranhões das quebradas.

Não durou mais que dez minutos o procedimento. Foi facinho como tirar doce de uma criança indefesa.

Zé Mané saiu da sala de cirurgia exibindo um largo sorriso na face. Desta vez a mocinha que se escondia apareceu.

Dele ouvi estas últimas palavras. Em alto e bom tom: “tá vendo? Não disse que iria fazer a capadura? Agora, quando alguém dizer que o filho é teu, respondo. Toma que o moleque não é meu”.

Espero ter explicado a distinção entre castração e vasectomia. Se não entenderem perguntem ao Zé Mané.

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