Escrever pra quê? Se ninguém lê?

Há tempos perdidos até onde a memória alcança mandei para o jornal o Estado de Minas um texto com este titulo.

E não é que ele publicou? Suprimiu a segunda frase. Talvez tenha entendido que alguns leitores existem. Neste país onde um ex-presidente gaba-se de poucos estudos. E se passou os olhos em algum livro foi um mero deslize. Já esquecido por muitos anos, desde que completou o segundo grau. Se é o que o fez…

Já completei meu décimo oitavo exemplar. Bem mostrados no meu site- www.paulorodarte.com.

Outras mais de mil crônicas aguardam o momento de serem editadas. Espero algum dia ter a coragem de tal desfaçatez.

Uma vez, se não me falha a lembrança de quando foi, deixei um dos livros meus a venda numa banca de jornal. E todos os dias passava por lá, para constatar se houve alguma compra. Mas todos os dez exemplares ainda estavam expostos à visitação.

Para minha felicidade, num daqueles dias senti a falta de dois deles. Perguntei ao proprietário da banca de jornal se eles foram comprados por alguma alma leitora. Já que não estavam no lugar onde foram deixados. Foi esta resposta que ele me deu: “não senhor, eles ainda estão aqui, guardados a sete chaves. Livros ninguém afana. Não se roubam livros. Não são objetos de desejo. Como celulares e outros bens e valores”.

Dali parti pensando em nunca mais editar livros. Mas, contrariando o meu desidério continuei nesta peregrinação. Escrever para mim é como procurar o arco íris sem que tenha chovido de pouco. É como um vicio que não pretendo me curar. É como aquela tábua de salvação perdida nas ondas do mar na qual me agarro para não me afogar.

Nas prateleiras da estante de onde estou descansam não sei quantos exemplares. Tenho por eles um ciúme enorme. Como filhos e netos dos quais nunca me esquecerei.

Ontem foi dia do escritor. Data por muitos lembrada. Pela maioria olvidada. Já que infelizmente a leitura ainda não está incorporada em nossos costumes.

A internet toma conta de nossos hábitos. Não há como viver sem ela. Pena que ela tomou o lugar de jornais impressos. Eles têm os seus dias contados.

Escrever pra quê? Se pouca gente tem o costume de ler. Mas vale a pena continuar tentando incutir na mente das pessoas que só pela educação se vai ao longe.

Bons livros não são escritos para enfeitarem tampos de mesa. Muito menos para repousarem nas prateleiras.

Ler é necessário. Escrever é preciso. Mesmo que os livros não sejam tão valorizados.

Ai de mim não fosse a inspiração que me domina. Ai de mim não fosse esse terceiro olhos que aprendi com ele a enxergar o que os outros não enxergam.

Escrever pra quê? Uma vez me perguntei. Escrevo para aquietar-me a alma. Para não deixar de respirar. Escrevo não apenas pra mim. Escrevo para transmitir aos outros um cadinho do que sou. Não espero tornar-me um imortal. E espero sim que minhas obras um dia serão degustadas pelas futuras gerações. E servirão como um rico manancial a preencher esta lacuna que ainda existe em algumas mentes obtusas. Espero clareá-las ainda mais.

Escrever pra quê? Deixo com vocês a resposta. Leiam, eduquem-se. Descortinem além do azul do céu. Não importa se ainda não se comprem livros. Como se compram outros bens que nos fazem tanto mal.

 

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