A olimpíada do Zezinho da Foice

Foram-se os anos. Passarinhou-se o tempo.

E aquele caboclinho teimoso sonhava um dia ser chamado a uma olimpíada.

E ele persistia em dar saltos. Pulava cercas de arame farpado sem arranhar os fundilhos. Era um enxadachim de primeira. Com a foice nas mãos não fazia feio.

Zezinho, filho da dona Eusebia e do João Destemido, morava numa rocinha perdida nos cafundós de Minas. Quem ali chegasse por certo havia se equivocado. Pois era longe de tudo e de todos. E logo dobrava nos calcanhares, assim que era informado do caminho exato.

Zezinho começou cedo a sua sina de atleta da foice e da enxada. Antes dos cinco anos já ajudava ao pai ordenhar a vacada. Antes das oito lá ia ele a correr tendo um novilho fogoso a lhe fazer companhia. Corria pelas invernadas. Saltava cercas de arame farpado. Usando um bambu gigante, bem maior que a sua estatura franzina.

Antes do almoço o esfomeado Zezinho ainda nadava numa represa nos fundos da sua rocinha. Nadava no estilo cachorrinho. Mesmo sem quem o ensinasse, Zezinho não fazia feio em longas distâncias. Atravessava um braço da represa. De um folego só. E ainda pescava quando o tempo permitia.

Zezinho crescia; não tanto. Espichou até menos de metro de meio. Foi quando lhe deu na veneta ser atleta de verdade. Não era um exemplo perfeito de jogador de basquete. Muito menos jogador de voleibol. Mal alcançava o galho mais fino da jabuticabeira. Aos vinte anos chegou à altura ideal para ser no máximo pintor de rodapé.

Mesmo assim Zezinho, conhecido nas cercanias por Zezinho da Foice, inscreveu-se numa escolinha de ginástica.  Na comunidade vizinha havia um professor.

Quem sabe seria esta o seu destino. Ou mais um desatino que lhe passou pela cabecinha sonhadora.

Naquele dia, de sábado, assim que terminou as tarefas na rocinha do seu pai, aquele rapazola sonhador, de carona no caminhão leiteiro chegou à cidade.

Procurou a tal escola. E, de tanto insistir acabou aceito naquela entidade meritória.

Passou anos e meses se exercitando nas barras fixas. Não se esqueceu de saltar no chão batido. Era um exemplo a ser seguido. Dada a sua vocação recém-descoberta.

Ali, naquela cidadezinha perdida nos cafundós de Minas não havia chance de conseguir seu dourado sonho.

Foi quando lhe apareceu a oportunidade de se mudar pra capital.

Ali, na Belo Horizonte das serras altaneiras, por sorte dele foi aceito para treinar num ginásio imponente. Seu nome era o mesmo das Minas. Minas Tênis Clube tornou-se sua segunda morada.

Alguns meses se passaram. Zezinho da Foice, que dormia ao lado da enxada, foi afinal convocado para as olimpíadas que foram postergadas para o ano seguinte.

Era seu sonho afinal concretizado. Chegou ao Japão depois de uma longa viagem. Vomitou no passageiro do lado. E chegou mareado ao país dos olhinhos puxados.

Eis que afinal chegou o dia e a hora de sua performance. Atletas de todas as partes do mundo perfilavam o seu lado.

Zezinho começou pelo cavalo sem alça. Acabou em décimo primeiro lugar naquela prova. Foi o terceiro colocado nas barras assimétricas. No solo foi um dos primeiros depois de um salto considerado difícil.

Ao fim do dia, cansado de tantos malabarismos, enfim Zezinho descansou. Em toda a delegação brasileira foi o mais aplaudido de todos. Não conquistou nenhuma medalha. Mas valeu o esforço e a experiência. Quem sabe na próxima ele vença?

Naquela noite estrelada, na rocinha encantada, nos cafundós das Minas Gerais, Zezinho acordou depois de um sonho bom. As olimpíadas dos seus sonhos estavam no seu término.

E ele, sonhador contumaz, não custa nada sonhar. Quem sabe um dia ele consiga participar de outra olimpíada. Nunca é demais sonhar.

 

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