Fala-se muito em crescimento

Nos idos anos de antigamente, pra mim a infância avoa para tão longe, exatos setenta e dois, naqueles tempos, tão díspares como os de agora se mostram, crescer era a ambição da gente.

Famílias, preocupadas com a diminuta estatura de seus filhotes, passarinhos, principalmente os beija-flores, que já nascem pequenitos, e pouco crescem, pouco se lixam com o pequeno porte daqueles menininhos emplumados, bicos fininhos, que avoam de flor em flor.

Conquanto outros, seres humanos, embora sejam desumanos de quando em vez, quando os filhos não crescem, como desejariam, logo o levam ao doutor. Ou, aconselhados por ele, recomendam dietas, alimentação mais sadia, ou, como preferiria, matriculam seus filhos numa escolinha de basquete.

E a criança não espicha como previsto. E se torna mal visto pelos coleguinhas. Recebendo apelidos que variam entre: baixinho, naniquinho, baixote, pintor de rodapé, não consegue, se não subir num banquinho, atingir a bunda daquela menininha levada, a qual já foi testada a virgindade pela maioria da sala de aula, jamais aquela foi a primeira vez que o selo da castidade foi rompido.

Crescer, no meu modesto entender, atingir a altura de uma girafa pescoçuda, não tenho este desejo guardado, a sete chaves, num lugar ermo escondido dentro de minha pessoinha, que nesta altura da vida que tenho levado não passa de metro e setenta.

Um professor, baixinho, calvo, de gratas recordações, costumava dizer: “a verdadeira altura de um homem se mede do alto das sobrancelhas à raiz dos cabelos. Pois o que está enfiado dentro do cérebro é que conta”.

Ainda bem que estou ficando cada vez mais careca. A distância entre a raiz dos meus cabelos até o ponto mais alto das sobrancelhas espicha mais e mais.

Tem se falado muito em crescimento. Os índices variam, em nosso país, segundo o que dita a realidade que nos rodeia.

A inflação galopeia. Os preços sobem na contramão dos salários. A vida escorre cercada de incontáveis percalços. A previsão do crescimento, os índices declaram que o crescimento previsto para esse ano não passa de não sei quantos percentis.

Não restam dúvidas que todos nós, pós ou ainda em pandemia, carecemos de alguns baldes de água fria para sobrevirmos neste mar revolto.

“Carma, sossega, não perca o resto dos seus cabelos. Um dia a coisa vai melhorar”. Diz um velho amigo.

E este dia não chega nunquinha. Quem sabe nossos netinhos sobreviverão num oceano mais tranquilo. Onde as ondas são impróprias para surfar em ondas gigantes. Como exemplo exemplifico aquelas da praia de Nazaré. Em Portugal.

Deixando de lado o crescimento dos índices que norteiam a inflação. O crescimento que se mede em cifras da bolsa de valores. Quantos decimais serão previstos para que a indústria não desça mais alguns degraus. E a quebradeira não nos pegue com as calças abaixo dos joelhos.

E eu me indago, sem saber a reposta das minhas incontáveis questões.

Quando voltaremos a ser felizes novamente? Quando essa procela em que estamos vivendo irá encontrar a luz ao fim do túnel? Quando as crianças, em nosso país à deriva, terão uma educação adequada? Que se adeque ao que estamos vendo em países ditos de primeiro mundo?

E, mais uma dúvida me atormenta: “quando a tormenta da tal pandemia vai ser excluída totalmente. E vai apenas ser lembrada como uma palavra extinta, que só irá constar nos dicionários.

Fala-se, nos tempos hodiernos, muito em crescimento.

Não me apoquenta a ideia de atingir maior estatura. Penso, aos mais de setenta anos, ter me encolhido algumas polegadas mais. Apoquenta-me sim. Quando os jovens irão mudar de ideia.

E, decidir, por seus próprios pensamentos. A verdadeira altura de uma pessoa não se mede pelos bens que conquistou. Pelas posses que angariou. Pelo dinheiro que guarda dentro do colchão. E nem mesmo pelo logro que passou em seus negócios escusos.

E sim pela simpatia que deixou. Pelos livros que leu. Ou, que alegria, ao saber, que este mesmo jovem aprendeu a escrever. E deixou uma montanha de livros no seu rastro.

Quem sabe seguir o mesmo caminho que um certo médico escritor, de nome comprido – Paulo Expedito Rodarte de Abreu.

 

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