A casa que nasceu num barranco de um rio que um dia foi grande

Título mais alongado e pra muitos de difícil entendimento.

Primeiro é que casa não nasce. Elas são construídas tijolo por tijolo, paredes feitas no prumo, deixando espaço para as janelas iluminarem o ambiente, até chegar ao telhado sendo coberto telha por telha, tendo por arremate a cumeeira, sendo bem feito para não deixar espaço para os pingos de chuva entrarem e acabar molhando toda a mobília a ser paga a prestações módicas segundo o orçamento daquela família de muitas bocas que dantes dormia ao relento.

E dizer que um rio um dia já foi grande é cair no secume do leito seco do mesmo rio.

Tendo em vista o aquecimento global é o que nos espera o futuro nesse estado de quase calamidade mundial.

O ser humano não imagina a desumanidade que tem sido cometida com o nosso antes lindo e magnifico planeta dito Terra. Em pouco tempo a quantidade de terra vai pedir socorro ao manancial de água doce chamada potável. As fontes irão escassear a tal ponto que nada mais irá sobrar das minas que dantes brotavam borbulhantes dos pés de serra descendo pelas encostas em ribeiros límpidos cheinhos de lambarizinhos de rabinhos vermelhos que faziam a alegria da molecada que ia pescar cheios de sonhos de da água tirar peixinhos, mas eles, ariscos, nadavam pra longe das minhoquinhas que felizes retornavam a mãe terra na intenção de a ela fertilizar.

E esse mesmo rio que um dia já foi imenso, correndo sem freios e sem olhar pra trás, chamado de rio Grande, nascido na serra da Canastra nesse lindo estado das Minas Gerais, bem antes passando por debaixo da ponte do Funil, como ele era piscoso e serelepe.

Ainda me lembro, em companhia de meu saudoso pai, ia com ele pescar nas areias brancas de umas prainhas, mais abaixo da ponte das corredeiras perigosas, poucos se atreviam a nadar ali, e daquelas águas correntes tirávamos dourados de escamas prateadas na medida certa para saciar a nossa vontade de comer fritos esses peixes de rico sabor. E fazíamos ainda fritadas dos mesmos lambarizinhos  e muitos deles serviam de iscas a peixes maiores como piaus, traíras e até mesmo jaús.

Pena, que  esse mesmo ser que dizem humano, carente de energia, coisa da tal modernidade que tem aniquilado esse nosso planeta, não se sabe ainda se deveras é o único onde o ser vivente vive inconsequentemente. Interpõe às águas antes correntes desse rio que já foi grande barragens ao seu caminhar.

Cerceando-lhe a liberdade de seguir em frente. Impedindo seus peixes de procriar em corridas corrente acima no período da piracema.

E este mesmo rio que já foi grande engorda e fica impávido impotente.

A margem dessas águas represadas agora se constroem casas imponentes em condomínios luxuosos  cujo preço dos terrenos sobem como balões à estratosfera sem medida e desprovidos de juízo de seus proprietários que alegam ter uma casa no campo onde possam receber os amigos e esses casarões imensos permanecem de porteiras fechadas olhando as águas domadas do grande rio que um dia já foi grande.   E hoje não mais.

Mas essa casa por mim edificada, não na intenção de poluir as águas paradas, num barranco do rio. Agora tem sido pra mim motivo de regozijo.

Tenho tido, nos meus domínios, a maior preocupação em não agredir mais ainda esse rio que não mais corre em direção a outros estados. E se corre o faz devagarinho. Como eu em minhas corridas tartaruguentas aos finais de semana quando não vou à academia.

Trata–se de uma casa dotada de uma vista encantadora. Quatro quartos no andar superior e um amplo banheiro a nos servir de asseio.

Descendo pelas escadas em dois lances chegamos ao andar térreo.

Outro quarto suíte é reservado aos amigos que porventura pedirem abrigo. Uma simpática salinha de televisão torna-se o lugar mais disputado a seguir da cozinha.

Mas quase nenhures fica por lá. A não ser minha Rosa quando parto em companhia em caminhadas junto aos meus fiéis amigos Clo  e o pretinho Robson.

Mas a cozinha ampla e a sala de jantar são as que mais merecem menção honrosa em homenagem a minha Rosa a idealizadora desse espaço de ótimo bom gosto.

Um fogão a lenha descansa ao fundo a espera de uma feijoada tão esperada feita por uma cozinheira esmerada como a dona dessa morada. Por mim chamada de Solar Paulo da Rosa.

Mas as varandas são um convite a reflexões mais profundas nascidas de dentro de mim mesmo não sendo filósofo como Nietzsche e Kierkegaard.

Como pode existir, se eu nem mesmo sei se existo, um lugar tão lindo como este?

Mas olhando longe, mesmo numa manhã nevoenta, as águas da represa cobertas por um lençol branco mais parecido nuvens caídas, um píer tentando abraçar as águas com seu deck de madeira, eu vejo que essa casa não foi feita sem propósito senão dar beleza ao que já existia. Antes um barranco e um pasto feio entremeado de cupins mortos. Onde carrapatos enfestavam vacas e cavalos.

Certo que o rio foi domado em sua fleuma de ir. Agora ele repousa placidamente olhando-me como a pedir: “ por favor. Impeça que outros me poluam mais. Sei que meu futuro está selado. Agora sirvo penso, apenas em servir de combustível para que suas casas tenham luz e eletricidade. Mas a sua casa, que nasceu em meio a um barranco e um pasto sujo, me faz sentir que nem tudo está perdido. Deus conserve em ti esse pedacinho do paraíso e Ele te abençoe sempre”.

Olhando da varanda de minha casa vi que sim. O paraíso se mostra desse majestoso jeito sim.

 

 

 

 

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