Aprendi que a vida é um eterno aprendizado.
Aprendemos, ao nascimento, a ver o mundo com os olhos incrédulos.
A primeira pessoa que conhecemos é a nossa mãe.
Uma enfermeira acostumada aos nascimentos nos embrulha numa manta quentinha.
E a seguir aprendemos a chorar pela primeira vez.
Uma vez mais tarde aprendemos as primeiras letras. A tal professorinha, que nos ensinou o baba, passou a ser a nossa segunda mãe.
Tempos se foram. Aprendemos, já no curso intermediário, que as letras não são suficientes. Infelizmente, no meu caso, entram em cena os números. Não os tenho em boa estima. Como tenho verdadeira paixão pelas letras meninas.
O nosso aprendizado não para por ai. Continuamos a aprender. Uma vez mais tarde temos de nos decidir por qual caminho seguir. Uma encruzilhada nos espera. Seguimos cada um o seu rumo. Muitos se perdem na estrada. Encontrando-se num emaranhado confuso. Sem saber sequer o seu destino.
No meu caso o aprendizado continuou. Venci a dura etapa do vestibular. Depois de decidir que a medicina seria o meu caminho.
Mais alguns anos de aprendizado. Concluso o curso médico foi a especialidade da urologia a eleita. Mais três anos de aprendizado. Dois foram na capital mineira. A linda Belo Horizonte de antão me seduzia. Hoje não tanto mais.
Naqueles verdes anos aprendi a operar sempre aos olhos de um professor mais experiente. Ainda me lembro da ansiedade que me tomou pelas mãos quando, naquele centro cirúrgico , tive de abrir o abdome sem a orientação segura dos mestres que me orientavam durante a residência da especialidade. Mas acabei aprendendo a errar menos graças aos anos que se passaram. Foram tempos difíceis aqueles. Não sabia o que eram noites de sono. Acordava sempre ao tilintar do telefone. E retornava ao hospital na tentativa por vezes inglória de salvar vidas. Mas aprendi, com o passar dos anos, que valeram a pena aquelas noites indormidas. Já que agora tenho a companhia de outros colegas da mesma especialidade. Aos quais me juntei aprendendo com eles que uma só andorinha não faz verão.
E continuo aprendendo. A ser mais paciente. Menos intransigente. Aprendi a ouvir mais do que falar.
Meu aprendizado continua. Aprendi a escrever. Retrato o cotidiano a cada dia. Aprendi a ouvir a voz do silêncio. O despertar das madrugadas. A caminhar pelas ruas ainda vazias.
Aprendi a ver beleza mesmo onde ela inexiste. A ver pássaros cantando na algaravia dos pardais naquele arbusto escondido na penumbra da manhã.
Aprendi a ver na roça toda a importância do homem do campo. Sem eles não teríamos o que comer. E estaríamos sujeitos a uma dieta asfáltica.
Aprendi que não se deve prejulgar. A me olhar menos no espelho. Já que a vaidade de antão não faz parte dos meus melhores momentos.
Aprendi ainda a dar valor aqueles tidos de menor importância. Os garis merecem o nosso respeito. Assim como as nossas secretárias são essenciais ao nosso desempenho profissional.
Aprendi a enfrentar os problemas do nosso dia após dia. Eles existem. Assim como soluções são encontradas.
Aprendi a olhar com bons olhos os nossos desafetos. E ao mesmo tempo não descrer da humanidade. Gente boa está por todos os lados. As piores logo serão engolidas pela sua maldade.
E continuo a aprender sempre. A vida continua sendo a minha melhor professora.
Como foi a adorável dona Beliza e as outras que a sucederam.