Aquele jovenzinho maroto, que vivia bulinando a égua pampa, sua primeira namorada de verdade com quem perdeu a virgindade numa matinha fresca tendo como escada um cupim morto, felizmente, não fosse morto as formigas ali escondidas fariam um desastre no pobre “piu piu” do jovenzinho imberbe, hormônios em efervescência, carinha de menino, atitudes de um ladino iniciador da arte do sexo, tendo aquela égua pampa como o primeiro amor, fora as galinhas que com elas acabou fazendo sexo, que caganeira molhada Zezinho levou na região genital, fora as pequenas bezerrinhas as quais deixou desconfiadas naquela tenra madrugada, quando elas pensaram que iriam mamar nas tetas da mãe, no entanto acabaram por sugar umas tetinhas compridas, como minhoquinhas fininhas, que não serviam de iscas a lambaris e sim de onde saía um líquido da cor e sabor do esperma, depois de excitar-lhe o instinto de libertinagem que o moleque Zezinho parece que nasceu com aquilo virado pra lua.
Dias, meses, anos se passaram desde o nascimento do jovem Zezinho banguelinha só na parte de cima.
Não se sabe qual foi a razão de tamanha inverdade de mentira.
O fato retrato da falta de dentes na arcada superior talvez tenha sido um coice da mula branca, uma com quem Zezinho acabou perdendo a vergonha, asna que puxava a carroça do avô do menino.
Dias depois do incidente acidental Zezinho chegou à casa dos pais com a boca murcha. Nela faltava uma série de dentes. No intervalo de um faltava o primo dois. Entre um e dois estava uma lacuna vazia, mostrando a gengiva sadia do pobre semi desdentado Zezinho.
Ele cresceu, ia à escola, de venda na boca. Sempre amordaçado, sorriso encoberto, dentes escondidos entre a vergonha por faltar-lhe dentes nos intervalos, e refém da enorme dificuldade de comer milho verde, iguaria a qual apreciava do mesmo tamanho da traseira da égua namoradeira. Que nunca prenhou por não combinar com os genes estranhos dos meninos da roça.
Aos quase vinte anos, ainda faltando dentes na arcada superior, era um, seguido de nenhum, que lhe dava aspecto de porteira cambeta, na qual faltavam réguas nos intervalos de um contra um.
Depois de grande, embora pequeno em estatura de metro, não aquela estatura moral, da qual era exemplo, o jovem Zezinho resolveu, num dia de sol intenso, quase outubro deixando espaço para o dia de finados, refazer o brancume da dentição incompleta.
Era tempo de chuva no pasto. Todos de ali oravam para São Pedro destrancar as torneiras do céu, desaguando aquela água limpa, recheada de adubo na medida exata para as plantas brotarem, que iria fazer o tal milagre de a roça de milho granar, a cana plantada de pouco pendoar, o capim braquiaria dar sementes, esparramando saúde para a vacada magra encobrir as costelas tão magras que dava, perfeitamente, para se admirar as lombrigas dentro do rumem das ruminantes anemiadas.
Foi num mês de novembro, mês de sol aberto, sem sinal de chuva no alto, que o tal Zezinho Hum Mil e Um procurou um especialista em implante dentário.
Queria ter o sorrido branco do amigo Sorriso aberto. Um preto, de alma branca, que quando ria acendiam-se as luzes da cidade inteira, tal era o brancume da sua dentição perfeita.
Assim Zezinho o fez.
Recomendado a um profissional bocarroto, aquele que mais falava do que propriamente cuidava dos dentes, o jovem egresso dos pastos sujos de pragas daninhas marcou a “pranta” dos dentes pra dali a quatro meses. Antes que a chuva não parasse de cair. Antes do verão das águas de março.
Assim o fez e refez o estrago. O primeiro implante não vingou. Veio a segunda tentativa. Neca de pitibiriba. Depois sucedeu o terceiro, seguido do quarto inteiro.
Nada de as falhas dos dentes de Zezinho Um mil e um se ver livre da banguelice ressaltada antes.
A boca de Zezinho, quase sem dentes, acabou murchando como o balão alçado ao ar na festa de São João.
Depois de incontáveis tentativas de implantes, para o caboclo da roça era uma “pranta de dentes”, debaldes foram as malogradas tentativas vãs.
Até hoje, quando me encontro com o pobre Zezinho andando sem rumo pelas ruas, evitando abrir a boca murcha, quando a ele pergunto a razão do seu implante não ter dado certo, ele me responde, tapando a boca com o chapéu de palha gasto pelas mordidas de ratazanas famintas, as que moram dentro da casinha tosca do agora adulto Zé, com a seguinte explicação: “meu amigo. Minhas falhas nos dentes, esta coisa que ensejou meu apelido de Zezinho Mil e Um, tem uma seguinte razão. Não choveu nadica de nada aqui na roça do meu sertão. É por isso que ainda estou com os dentes em falta. Por pura falta de chuva no pasto. Por esse exato motivo a “pranta” não vingou”.
Deixei a casinha da roça do adulto Zé com uma estranha sensação de desconforto. O tal dentista era um picareta de marca maior.