Aquelas lembranças…

Algumas são ruins, outras não quero que me escapem das lembranças.

Lembrar ou esquecer. Sentir saudade e ser indiferente a ela. Amar e não ser amado. Chorar e não sentir nada.

Lembrar, podem dizer que é coisa do passado. Mas como me afastar dele se ele me entra alma adentro sempre que olho para aquela rua, tão perto, por onde sempre passo ao final das tardes.

Ali não nasci. Apenas cresci. Foi lá que a mocidade bafejou em mim seu hálito agradável. Senti na pele o frescor da juventude. Fiz-me adulto, depois que voltei da capital do meu estado médico formado.

E como me lembro daqueles verdes anos. Foram mais que bons. Os melhores que já passei.

Naquele colégio, que agora, final de agosto comemora mais um ano de vida, foi onde aprendi as primeiras letras. Por elas me apaixonei.

Foi lá que entendi que homem e mulher devem ficar próximos um do outro. O bastante para trocar carinhos, apaixonarem-se, e depois se tornarem parceiros durante a vida inteira. Se não durante toda a vida pelo menos parte dela.

Foi ali que aprendi a levar a sério os ensinamentos dos professores. Creio ter sido um aluno acima da média.

Foi lá que comecei  a praticar atividades físicas, na hora certa. Mente sã em corpo são.

São lembranças eternas. Que jamais gostaria de deletar das minhas memórias.

Outras recordações ainda estão arraigadas profundamente dentro do meu âmago. As férias de fim de ano passaram. E como aproveitei o descanso que elas me proporcionaram.

Agora quase não tiro férias. Mais tarde talvez, quando precisar descansar o sono eterno.

As lembranças de quando fui criança não desejo nunca que se esparramem como folhas ao vento. E como venta neste agosto. Sempre que desço a rua piso folhas mortas. Tenho cuidado para não machucar as flores dos ipês que se despetalaram durante a noite.

Ainda me lembro da primeira namorada. Hoje por certo ela se tornou avó.  A segunda a tenho guardada a sete chaves dentro do meu coração.

E como me faz bem lembrar das pessoas que me introduziram ao mundo. Dos seus ensinamentos fecundos. Do seu amor sem nada exigir em troca. Meus pais não mais fazem parte deste mundo. Com certeza estão numa etapa superior, na azulice do céu, ao lado de anjos, sempre atentos ao que se passa aqui embaixo.

São lembranças eternas. As quais jamais desejo apagar.

Ainda me lembro de quando aqui cheguei. Um tanto soberbo. Pensando talvez saber mais que os outros. Ledo engano. Logo logo a vida me ensinou que não era bem assim. Só a experiência dos anos mostrou-me quantos enganos cometi.

Estas lembranças também não desejo apagá-las. Elas são fundamentais para o meu crescimento.

Ainda me lembro, muito bem, do nascimento dos meus filhos. Hoje eles me deram netos. Logo dois estarão ao meu lado. É neles que encontrei a fórmula mágica do rejuvenescer.

As lembranças boas ficaram. As ruins não foram apagadas. Elas também me ensinaram a ser melhor do que sou.

Sempre que volto ao passado lembranças daqueles anos vêm à tona. Dos primeiros anos de vida. Do bebê chorão que fui. Da criança artiosa que ainda me considero.

Agora, prestes a completar idade nova, em dezembro isso acontece, não tenho como evitar, outras recordações atropelam minha mente. Não que esteja ficando demente. Inconsequente e um tanto gagá.

Tenho memória afiada. Não me esqueço jamais dos fatos importantes. Os que não me trazem alento que mal que faz deixá-los arquivados num setor esquecido do meu cérebro. Sempre irrequieto e pensante. Nos prós e contras de um viver constante.

Quantas lembranças passaram-me anos afora. A maior parte delas foram boas. Aquelas que não foram também estão nalgum lugar. Logo serão esquecidas. Para sempre apagadas. Como faço com as mensagens várias que entulham a memória do  meu computador. Estou prestes a deletá-las.

Pena que não se possa deletar o passado. Ele se foi. Ficou tempos atrás. E não tenho coragem de dizer que ele não foi importante. Dizem que o presente é que conta. O mesmo tenho a dizer do futuro. Ele tem a incerteza da vida. E quanto mais viverei não quero saber.

Da mesma forma que as lembranças são importantes, fundamentais ao nosso existir, algumas são melhores do que as outras. A maior parte delas não esqueço. As outras, não fundamentais, deleto das minhas memórias. Elas não importam mais. Talvez um dia se lembrem de mim. E não me apaguem das suas lembranças. Principalmente de mim criança, já que o velho um dia não estará mais aqui. A se lembrar do que fui, ou serei, numa data qualquer. Tomara.

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