Portas fechadas

Nem sempre vejo aquele colégio de portões abertos.

Hoje mesmo aconteceu.

Um jovem esperava pela abertura daquele portão. Na esperança de assistir as aulas desta manhã.

Já o conhecia de antes. Seu nome era Antero. Já sabia o quanto ele era estudioso, bom aluno, ávido por se dar bem na vida.

Pena que todas as oportunidades para Antero pareciam estar se fechando. Ele tinha mais idade. Não tão jovem como parecia.

Nascido e criado na roça, num lugar ermo, desprovido de quase tudo, menos de trabalho que começava bem cedo, o menino Antero queria outra vida para seu futuro.

Não que renegasse o lugar onde nasceu. Em verdade amava os animais com os quais convivia.

O pai, roceiro, sem estudos, passava grandes dificuldades para dar a pequena família uma vida digna. A mãe, dedicada senhora, sempre enferma, passava o maior parte do tempo a cuidar da casa. Um irmão mais velho era quem ajudava ao pai nas lidas diárias. Antero queria ir mais longe. Daí a sua dedicação aos estudos. Ali, naquele pedacinho de chão duro não teria chances de continuar sua formação profissional.

Aos doze anos, durante uma noite estrelada, sonhou ser advogado. Adorava devorar livros. A literatura passou a ser a paixão de sua vidinha insossa.

Aos quinze decidiu, depois de contar ao pai, que seu desejo era se mudar para a cidade. Naqueles tempos cursava o segundo grau. Numa escolinha rural. Que hoje se transformou numa casinha abandonada à beira da estrada.

Como a família não tinha posses, vivia da renda pouca do leite, o jovem Antero teria de se virar para viver num centro maior. Os estudos deveriam ser consorciados com o trabalho. Mas ele, valente e obstinado, logo encontraria um espaço para se alojar.

Dito e feito. Aos menos de dezoito anos foi empregado numa mercearia. Ali era além de balconista o encarregado da faxina.

A noite estudava numa escola sob a tutela do estado. De bom conceito, inclusive. Por ali passaram bons advogados, médicos especialistas, além de pais de família exemplares.

Não foi difícil se dar bem naquela escola. Era bom aluno, aplicado, nunca faltou a nenhuma aula, desde quando foi admitido.

O português era de sua predileção maior. Embora não tirasse notas ruins em outras disciplinas.

Prestes a concluir a formação no segundo grau uma greve ameaçou interromper o seu sonho de se tornar doutor.

Foi nesta manhã, quando descia rua, como sempre faço, encontrei o jovem Antero assentado perto do portão daquela escola. Cabisbaixo, desiludido, pensativo.

Parei por alguns minutos. Foi quando entabulei uma conversa com o jovem acabrunhado.

“O que aconteceu? Por que razão você não adentrou ao portão da sua escola”?

Antero, olhando-me sem se levantar, calmamente explicou-me que, dado a greve recém-iniciada, ele se viu privado de estudar.

Deixei-o pensando na vida. Enquanto outros jovens não querem nada com o estudo, o pequeno Antero, sonhando ser advogado, acabou encontrando o portão fechado.

É triste, constatar, que outros jovens como ele, que desejam de fato se formar, encontram portas fechadas. Neste país onde a educação, que deveria ser vital, encontra-se neste emaranhado confuso. Onde os professores ganham tão mal. Entram em greve. Deixando a ver navios jovens como Antero, o qual encontrei bastante desiludido no dia de hoje, agosto em seu final.

 

 

 

 

 

 

 

 

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