É preciso aprender a viver

A gente nasce, cresce, se transforma em adulto, envelhece, e, na escola não se ensina a viver.

Dizem que a vida é um eterno aprendizado.

Pena que muitos passam pela vida sem nada aprender.

Na escola se ensina o b-a-bá. As primeiras letras, a primeira professora, aquela que sucedeu a nossa mãe, tenta incutir em nosso aprendizado lições que jamais serão esquecidas. Ai que saudade da professorinha que me ensinou o abcd.

Uma vez crescidos, prontos a enfrentar o vestibular, enchem-nos de ensinamentos, que serão olvidados com o passar do tempo. Eu mesmo fui ensinado que a matemática é importante. A geografia só me serviu durante as viagens. A história de nossa pátria até hoje me faz lembrar o Tiradentes.

Já como viver em intensidade plena só mais tarde descobri como se deve fazer.

Depois que atingi certa idade, nestes setenta e dois anos de vida, ainda não aprendi a conviver com as limitações.

O sono fica mais curto. As pernas claudicam. A audição se complica. Precisamos quase sempre de óculos para enxergar melhor.

Nós, homens, temos de acordar durante a noite para ir ao banheiro. Não para pentear o que nos restou dos cabelos. E sim para urinar.

Mais tarde, quando a memória claudica, não mais nos lembramos de quem somos. Precisamos recorrer a alguém mais jovem para nos ensinar de novo quem somos nós. Aí, neste ponto da encruzilhada, perdidos, sem rumo, sem prumo, só nos resta recorrer a cuidadores, que cobram nosso peso em ouro, já que nossos filhos decidiram nos colocar numa casa de idosos, contrariando a nossa vontade de continuar naquela casinha pequenina, onde o nosso primeiro amor aconteceu.

Os anos passam. E a gente não fica imune à passagem dos anos. Quantos desenganos tivemos de enfrentar. Ainda me lembro de quando me formei em medicina. Que festa majestosa. Eu vestindo uma beca escura, cabelos longos, ideias ainda mais, pensava que a vida era só festas. Mas foi o tempo que me ensinou que nem tudo que reluz se torna prata. Muitas vezes o chumbo pesado nos obriga a vergar a coluna, carregando sobre nós a responsabilidade que nem imaginávamos ser tão pesada.

Como viver deveria ser disciplina obrigatória nas escolas. No entanto, não é.

A gente só aprende a viver anos mais tarde. Por vezes se torna difícil compreender.

E a gente aprende depois de muitos senões e pisões em falso. Um dia falseia-nos o tirocínio. E temos recorrer a outrem um auxilio. Que por vezes não vem.

A gente deveria aprender a viver. Alguém deveria nos ensinar.

Mas só temos a vida como mestra. O tempo nos ensina a esperar.

Nestes setenta e dois anos bem vividos, espero continuar por muitos anos mais, tenho aprendido, na escola da vida, que quanto mais se vive mais se aprende. Desde que a saúde não nos abandone. A família nos dê suporte.

Cada vez mais aprendo que nada sei. Só saberei o que vai me esperar amanhã, ou depois de outro amanhã, seja o que Deus quiser.

A vida é pródiga em ensinamentos. Um aprendizado constante. Até a hora de tudo terminar…

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