Bem que gostaria…

Hoje amanheceu com uma neblina que mal se permitia ver um palmo adiante dos olhos.

O inverno se avizinha.

Dizem, os entendidos, que quando a cerração baixa o sol racha.

Parece que, no decorrer do dia, essa assertiva deve se concretizar.

Tenho pensado muito durante as madrugadas. Por vezes penso em voz alta. Antes das cinco e meia já me ponho de pé.

Não consigo permanecer na cama por muito tempo. Apraz-me acordar cedo. Olhar pela janela. Sentir a brisa fresca das manhãs.

Hoje, onze de maio, durante a noite sonhei de olhos abertos.

Não foi propriamente um sonho.  E sim mais um devaneio meu.

Pela televisão só tenho assistido a noticias ruins. Parece que a pandemia está prestes ao seu desfecho. Felizmente.

O mundo inteiro ressente-se da falta de tudo um pouco. O preço dos combustíveis eleva-se à estratosfera. O gás de cozinha acompanha a inflação que galopa como um cavalo bravio. A violência predomina não apenas nas grandes cidades. Mortes, desastres, assaltos, gente dormindo ao relento, nestes dias frios, desagasalhados, impotentes para alterar o estado de coisas, fazem-me refletir sobre a razão de tantos contratempos.

Melhor seria não ter tamanhas distinções nesta sociedade tão díspare. Que privilegia os bem nascidos. Em contrapartida trata aqueles pobres desafortunados com tamanha desigualdade.

Não tenho do que me queixar. Tive pais que me ofereceram tudo que gostaria. Tive uma educação esmerada. Nunca me faltou comida naquela mesa farta. Tive bons exemplos a seguir.

No entanto, durante o sono, curto, sempre pensei num mundo mais igualitário.

Com iguais oportunidades oferecidas sem distinção de classe ou de berço.

Bem que gostaria que o desemprego não fosse tão aviltante. Que a renda fosse mais em acordo com as necessidades dominantes.

Preferiria que as pessoas não passassem tantas necessidades. Que os jovens tivessem direito a um trabalho condizente as suas formações profissionais.

Bem que gostaria que o sol nascesse para todos. Mesmo em dias nublados como o de hoje.

E como gostaria de ver em cada rua, em cada esquina, lojas apinhadas de gente. Que o comércio conseguisse desovar seus estoques.

Bem que gostaria de viver num país mais fraterno. Onde a coisa pública tivesse o endereço certo. E quem nos governa assim o fizesse com seriedade.

Que nosso povo brasileiro soubesse de fato escolher seus candidatos ao pleito que se aproxima.

E como gostaria, de verdade, poder assistir pela mídia, noticias mais alvissareiras. Que não fossem veiculadas inverdades.

Como me aprazeria assistir, daqui do alto, do meu consultório, a saúde sendo de fato um direito de todos. Não apenas no papel.

Como gostaria, não fosse apenas mais um sonho meu, que todos tivessem o mesmo direito perante a lei. Que fossem punidos mesmo aqueles de colarinho engomado. Que a cadeia não fosse apenas morada de preto, pobre e prostituta.

Bem que gostaria de viver num mundo em que não houvesse distinção de raça, credo, ou condição social.

Que todos pudessem desfrutar das mesmas oportunidades. Que não existissem pedintes a esmolarem restos das sobras.

Gostaria, em verdade, que meus sonhos se concretizassem. E não fossem apenas sonhos meus.

 

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