O que seria de mim sem ela?
Um mero escrevinhador sem sua musa? Um velho triste sem alegria?
Um mero ser vivente sem a razão de sua vida? Uma flor murcha sem uma alma boa que a possa irrigar com água pura? Eu nada seria sem ela. Talvez uma alma penada a vagar solitário pelas estradas da vida.
Amanhã, doze de dezembro, pra mim e para muitos se trata de uma data especial.
Não se pode e nem se deve dizer a idade das mulheres. Mas elazinha, minha menininha que ainda conserva o viço dos seus menos de vinte. Já ultrapassou um cadinho os setenta. Dois anos nos separam. Eu completei setenta e seis e ela dois a menos. Quem nos olha com bons olhos diz e pensa que ela se parece a minha filha. Já eu digo e reflito, cá comigo, que minha Rosa, ainda muito formosa. Pilheriando digo a outrem que ela é minha mãe.
Uma panela, para funcionar a contento, para um bom cozimento, deve ter uma tampa que se adeque ao seu formato. Ela deve encaixar perfeitamente a borda dessa panela. Sem deixar uma frestinha que seja por onde escape o vapor.
A tampa da minha panela tem todas essas qualidades. E outras mais.
Não digo que nossa vida tem sido sempre um mar de rosas. A minha Rosemirian de vez em quando me espeta com seus espinhos. A culpa, na maior parte das vezes, a mim atribuo. Sou um pensador e escrevinhador. Já elazinha tem os pés no chão e adora os números. Já eu sou amante das letras e nelas incluo o R.
Quem seria eu sem a tampa da minha panela? Se nem cozinhar sei. E como admiro suas inúmeras artes. Modista estilista tem muito estilo. Tanto no vestir como costurar.
A tampa da minha panela amanhã colhe mais uma primavera. E eu aqui tentando lucubrar qual presente dar a ela.
Seria mais uma tesoura ou um dedal? Uma máquina de costura talvez não seja a mais indicada. Já que ela tem tantas a mofar na sua confecção. Um vestido novo não seria uma boa opção. Centenas se mostram dependurados nos cabides dos seus armários. Quem sabe um encômio ela aceite de bom agrado? Agora uma boa idéia me saiu do pensamento. Já que sou um escrevinhador consumido e contumaz talvez uma crônica a faça feliz nessa data especial?
E por que não falar de flores já que ela é uma rosa. Rosemirian, melhor escrito.
O que seria de mim sem ela? Sem a tampa da minha panela nada seria. Talvez um esfomeado pensando na janta. No pão de queijo que no dia de ontem ela fez pra mim.
Amanhã minha Rosa, como queiram Rosemirian, completa mais um ano de vida.
Uma existência todinha dedicada à família. Felizmente faço parte dela. Na qual incluo meus dois filhos e três netinhos.
Muitos têm tampas de panelas que ajudam no cozimento.
Já a minha é pra lá de especial. Ela me completa. Paga minhas contas. Vigia meus gastos. Faz uma comidinha como poucos chefs de cuisine.
A minha tampa da panela nunca irei me cansar dela. Trocar por uma novinha nem pensar. Ela já tem muitos anos de uso. Mas jamais irei deixá-la em desuso.
A tampa da minha panela se encaixa perfeitamente naquilo que desejo na vida.
Correção, honestidade, amor a família e ao trabalho.
Qualidades essas que uma boa panela, por mais velha e gasta que seja, jamais vai perder a serventia.
Receba você Rosemirian, tampa da minha panela, todo o meu carinho e admiração. Nesses seus muitos anos de vida. Que se prolonguem tanto ou mais que os meus.
Não só nesse dia de amanhã. Como em todos de sua vida, ao meu lado, desejo tudo de melhor pra você, de coração.