Tristes lembranças…

Aquele não foi um ano fácil para aquela família.

Pai, mãe, dois filhos menores, de repente se viram ao Deus dará.

O pai foi despedido de uma fábrica de chocolate. Um emprego que para ele significava tudo.

Foi de repente. Numa sexta-feira inglória. Quando chegou ao trabalho encontrou as portas fechadas. A tal fabriqueta de fundo de quintal foi fechada por não corresponder às exigências da vigilância sanitária. Por um motivo banal. Simplesmente por não cumprir um singelo detalhe. Faltava toca nos funcionários. O proprietário, bom homem, trabalhador, esqueceu-se de comprar aquele simples adereço. E foi multado. E, dias depois, já cumprindo as exigências, encontrou o fiscal da prefeitura com um mandato de fechamento das portas. E não teve a quem recorrer.

Antenor, pai de família dedicado, passou semanas a fio procurando emprego. Encontrou portas fechadas. Em muitas delas prometeram que voltasse noutro dia. Quem sabe quando? Só Deus saberia.

Foi então que aquela família, que vivia às expensas do provedor, se viu no olho da rua. Foi despejada por falta de pagar o aluguel. Uma quantia além das posses modestas daquele casal.

O que fazer naquela situação aflitiva? Só lhes restava morar na rua da amargura. Foi o que aconteceu.

Era dezembro. Quase ano findo. O Natal se avizinhava. As ruas enfeitadas eram um convite ao desfrute dos olhos.

Antenor, a mulher, e os dois filhos, passaram as festas de final de ano a ver navios. Literalmente. Chovia a encher baldes. Acordavam todas as manhãs com os pertences molhados.

Sem emprego, sem dinheiro, a família de Antenor passou a esmolar. Postaram-se a porta de um banco. A todos que entravam pediam encarecidamente alguma quantia mesmo que pequena. Qualquer moedinha serviria. Para comprar um pãozinho. Um quilo de arroz.

Enfim chegou o Natal. Naquela noite festiva, para muitos, para outros infelizes triste como a vida tinha sido, a família de Antenor dormiu na praça central da cidade.

E como choveu na noite de Natal. As árvores da praça não serviram de teto para aquela desventurada família. Dormiram ao desabrigo.

O ano novo chegou. Da mesma forma acabou. Sem perspectivas de trabalho. Sem emprego.

No primeiro dia do ano Antenor voltou às ruas. Desconsolado, desiludido.

Passavam dias. Meses escorriam pela palma da mão.

Aquele ano não foi nada fácil para a família de Antenor.

Da mesma forma outras famílias passaram por enormes dificuldades.

Dois mil e dezenove foi um ano de tristes lembranças. Oxalá o ano que em pouco inicia traga boas perspectivas de trabalho e crescimento.

É o que desejo a todos os brasileiros. Que as lembranças sejam alvissareiras durante o ano novo. Em verdade, de coração aberto, torço pelo país inteiro.

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