Cadê o sol?

Desde tempos fecundos não faz outra coisa senão chover.

Hoje choveu durante a noite. Caiu uma aguaceira danada. Goteiras por todo lado.

Zé da Estrada acordou molhadinho da silva.

Acontece, a noite passada, durante a madrugada, a chuva caindo destemperada, acabou por cair sobre a cama do Zé. Deixando-o molhado até os ossos.

Findo o carnaval o ano começa. E nada de o sol mostra a cara iluminada.

Segundo a previsão da meteorologia a chuva deve continuar pelo resto da semana. Domingo próximo continua a chuvarada. Talvez na segunda, entrando semana adentro, o sol mostre a cara. Para iluminar o mundo. Tingindo de alegria a cara emburrada de quem mora na cidade.

Certo de que chuva faz falta. Mas, do jeito que anda a coisa, chove num dia, continua a chover no dia seguinte, que tal fazer uma pausa?

Chuva com sol dizem ser casamento da viúva. Chover durante a noite, aquela chuva fininha, até que ajuda a dormir. Mas com raios e relâmpagos, trovões fazendo aquele barulhão danado, só faz assustar as criancinhas, que acordam em sobressalto.

Foi assim que amanheceu naquela manhã seguida ao carnaval. Céu nublado. Escuro e acinzentado. Tudo indicava que a chuva deveria continuar.

Zé da Estrada, naquela manhã de quinta-feira, acordou e logo foi ao banheiro. Tomou uma ducha morna. Ensaboou o corpo inteiro. Era por volta das cinco da manhã. Lá fora chovia. Céu escuro. Nuvens ameaçadoras indicavam mais chuva no decorrer do dia.

Era hora de sair de casa. O trabalho o esperava.

Empregado numa fábrica de autopeças Zé tomou a condução que o levaria ao trabalho.

Seriam duas horas inteiras de viagem. Na estação do metrô filas imensas se formaram.

Em meio aquele tumulto o infeliz foi aliviado da carteira. Foi uma mão boba que o fez perder todos os documentos.

Mas nada o fazia perder o bom humor. Zé era um otimista de carteirinha assinada. Tudo o fazia sorrir. Mesmo a própria desgraça.

Desta vez, dada à chuva que caía descompassada, Zé da Estrada chegou atrasado ao trabalho. Foi repreendido pelo patrão. Como se tivesse culpa no cartório.

Passou o dia inteiro ensimesmado. Pensando perder o emprego.

Zé era solteiro. Vivia sozinho na cidade grande. Tinha poucos amigos.

Oriundo da roça, de pais falecidos, no mundo só restava ele. E nenhum aparentado.

Naquele dia chuvoso, nublado, Zé passou o dia inteiro absorvido no trabalho pesado.

O relógio indicava sete da noite quando a sirene apitou. Era hora de voltar a casa.

Zé despediu-se dos mais chegados. Quase ninguém percebeu seu gesto simples de boa noite.

Uma vez na rua, a espera da condução, sem a carteira no bolso, sem dinheiro, sem como pagar a lotação, Zé da Estrada resolveu ir caminhando. Era uma viagem de muitas léguas. Uma distância enorme o separava de casa. Mesmo assim Zé da Estrada empreendeu a viagem de volta.

De novo a chuva despencou do alto. Uma chuvarada de molhar os ossos.

Por volta da dez da noite Zé chegou a casa. Era uma noite escura. Céu indicando mais chuva no decair da noite.

Na manhã seguinte mais água desceu do céu.

Cadê o sol? Zé perguntou a si mesmo.

Uma semana inteira vendo o sol escondido entre as nuvens. Onde estaria ele?

Esta pergunta ainda não tem resposta. Continua a chover. Até quando? Até quando a chuva cessar.

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