A descrença do Zé Eugenio

Acreditar sempre fez parte do meu vocabulário.

Tão rico e ao mesmo tempo tão pobre. Digo pobre devido às palavras que desconheço. São tantas que, por mais que estude, mais conviva com a gente simples da roça, por vezes acabo ignorando o que me diz o compadre Eugenio.

Ele, no alto dos seus quase oitenta anos, barba nevada, cabelos tintos da cor da paina de algodão, barriga encavada de tanto serviço, rosto sulcado pelos anos, sempre que passo por ele, assentado nos seus calcanhares, fumando um paiero apagado, ele vem com cada expressão que me faz coçar os neurônios.

“Esturdia, alpercata marrom, fumarento, sumi na braquiária, escafedeu-se, vou rangar, sartei de banda, furdunço, parança, persigo a herança, ao invés de perseverança, com o toco atravessado, a veia me mordeu o bolso, assoprou meio pro lado, e entre tantos vocábulos arrevesados acabo não entendendo nadica de nada”.

Esturdia, num dia quente de verão, como o de hoje cedo, acabei contendo minha impaciência junto dele.

A chuva não caia fazia tempo. Estava um sol de esquentar miolos. A roça de milho implorava por água. A chuva tardava e faltava.

A pastaria ressequida lembrava um deserto da cor do cabelo de milho prestes a madurar.

A vacada morria de inanição. Até o cãozinho de estimação ficava à sombra da bananeira. E ele comia os restos de um gambá morto na tarde passada.

Foi, neste cenário nada paradisíaco, que me deparei com o amigo Eugenio. Sem acento mesmo. Conforme ele foi batizado.

Começamos a prosa com os mesmos cumprimentos de costume.

“Oi, tudo bem? Ou vai tudo mal.”

Ele me retrucou com ares de poucos amigos.

“Num está vendo o que se passa? Esfrega os oio. Vê se enxerga direito”!

Já eu, agora entendendo a prosa ruim, comecei a cantilena desejando a ele dias melhores.

“Calma amigo Eugenio. Não vê que começaram a vacinação? Em pouco tempo a tal doença vai sumir na braquiária. A chuva vai cair de novo. Tempos melhores virão”.

“Ah! que mal que faz. Tanto me fez. A vida pra mim tá de mar a pior. Perdi a patroa há um mês pra trás. Não sei por onde anda a minha prole. Vivo sozinho. Ao Deus dará. Quem sabe o dia que vou bater as botas? Tomara a morte me pegue pelo cocuruto. Neste mesmo banquinho onde me assento agora. A tal doença ainda vai se alastrar como fogo lambendo a terra. Se a chuva voltar, vai ser tarde demais.”

Despedimo-nos desejando um ao outro melhores dias.

No entanto percebi, nos olhares do amigo velho, um ar de descrença total.

Seu Eugenio parece que vaticinava o pior.

A chuva não chegou na hora certa. A tal pandemia ainda continua. A tal vacina prometida não deu nem para o começo.

Já hoje, neste quase final de janeiro, assistindo ao noticiário, infelizmente constato. As previsões do velho Zé Eugenio parece que estão se consumando.

 

Deixe uma resposta